Libitina

Nós também como Horácio
Edificar quisemos
Um monumento mais duradouro
Que o bronze
Mas sem nos avisar
A torrente da chuva forte
O vento devastador dos anos
Os achaques do corpo
As rugas no rosto
A cilada da desmemória
A incompreensão dos amigos
O fogo fátuo da dóxa
O desdém da ingratidão dos filhos netos e sobrinhos
O sótão como aposento
A foto da ex-amada toda rasurada
O olhar embaçado pela catarata
As migalhas cotidianas das manhãs perdidas
O olhar esquivo da vida
A nós sobrevieram
Restou-nos todavia Libitina
Que aparentemente distraída
Observa-nos ainda bem atenta

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