FRAGMENTOS D'O COLÓQUIO DE SILS-MARIA




Um dos senhores poderia nos dizer do que se trata esse objeto que Subjaz nesse distinto leito? 


Oh, meus caros senhores! 


Saibam que não vim aqui para tais reflexões. 


Na verdade, posso afirmar com total segurança que foi a minha Querida Xantipa que me exortou a um caminhar peripatético, já que Me encontro tendo dores terríveis em meu abdome, em face de uma Certa argia que vem se acometendo sobre mim nesses últimos dias. 


Mas posso, contudo, quase que afirmar que vejo nitidamente a areté. 


Isso é tão evidente para mim como as estrelas e a moral de Kant. 


Oh, meu caro amigo! 


Vê se pára com essas insinuações à minha pessoa, mesmo sabendo-as Como um certo encômio . 


Tenho evitado ultimamente discorrer sobre qualquer possibilidade. 


Há dias que não pratico o onanismo, e isso tem-me perturbado Deveras o meu raciocínio. 


Os senhores sabiam que o esperma acumulado por mais de três dias Cria uma disfunção neural, que nos incapacita para a total Reflexão? 


Por isso abstenho-me de qualquer doxa 

Acerca do que quer que seja. 


Bem, sendo dessa forma, eu não veria outra possibilidade, senão a De chamarmos de imediato um iatrós de Atenas, porquanto vejo que a Doença se abate de tal forma nessa casa, que seria quase que Impossível seguirmos com esse simpósio secular. 


Vejo que Parmênides traz em suas mãos alguns fragmentos e que Apesar de sua imobilidade, parece-me que teria muito a nos dizer. 


Sabemos que não foi fácil a travessia do rio de Heráclito. Sabemos Também que no Estígio quase soçobraste, Mestre Parmênides. 


É verdade? 


-----------------!? 


Diga-nos também se há uma verdade, Mestre Descartes? 


Primeiramente, considero haver em nós 


Certas noções primitivas, as quais são como 


Originais, sob cujo padrão formamos todos 


Os nossos outros conhecimentos. 


Bem, vejo que fez bem a mestre Descartes as águas temperadas da Holanda. 


Mas não consegui até agora compreender a vossa explicação acerca Do objeto que subjaz à nossa frente. 


Acho que, por Zeus! 


Mestre Bacon! 


Tu não deverias falar assim de mestre Descartes. 


O senhor sabe muito bem que a sua vida pregressa não foi um Órganon perfeito, caríssimo Bacon. 


Pesam suspeitas sobre o senhor, 

Caríssimo Bacon: 

De uma tal malversação. 


Sem falarmos que Shakespeare 

Anda muito triste com o senhor. 


Ora! 


Ora! 


Deixem Bacon em paz. 


Bem sabemos que Aristóteles já tinha 

Desenvolvido o seu órganon, mas não devemos desconsiderar o belo Esforço de Bacon em nos possibilitar esse acepipe maravilhoso. 


Oh, mestre Bachelard! 

Pare de pensar 

Somente em guloseimas. 


Vê se a chama de tua vela 

Ilumina um pouco esse excêntrico companheiro. 


Deixem Bachelard em paz 

Com as suas velas poéticas. 


Há muito que esse apagão reflexivo necessita de uma luminosidade. 


Mas o que eu quero nessa casa 

É uma certa 

Ordem, um certo progresso. 


Os senhores estão 

Numa anomia inominável. 


E isso é terrível! 

Terrível! 

Sem um Estado estético-religioso-moral, afundaremos na mais Absurda das tragédias. 


Você 

Decididamente 

É um idiota, Comte. 


Não me venha furtar 

Um conceito 

Fundado 

Por mim, há séculos. 

Sim, eu lhe vomito todas as minhas dores oculares, bem como toda a Minha cefaléia. 


Deixe-me vomitar primeiro: 


Gluhhhhhhhh!!!!! 


Por favor 

Fichte 

Desligue esse idiota do Wagner. 


Gluhhhhhhhhhhh!!!!! 


Antes, porém, gostaria 

De entoar um 

Mantra zaratustreano 

Em uníssono 

Com todos vocês: 


Ó sentimentais hipócritas, ó mentirosos.... 

Todos! 

Todos! 

Ó sentimentais hipócritas, ó mentirosos.... 

Mais uma vez... 

Ó sentimentais hipócritas, ó mentirosos.... 

De novo... 

Ó sentimentais hipócritas, ó mentirosos.....

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