NELSON ROMANO

 




1 - Fale de você: onde nasceu? qual formação? onde vive? o que faz?

Sou paulistano, criado na cidade onde nasci. Sou desenvolvedor de software, formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas na FATEC Zona Leste, em São Paulo. Trabalho como prestador de serviços à Alelo, como programador e consultor de tecnologia. Toco violino, tendo uma breve passagem pela orquestra experimental do SESC Consolação em 2010. Componho pequenas peças instrumentais desde 2006. Escrevo sonetos e outros gêneros poéticos, apesar de nunca ter publicado nenhum texto.


2 - Quais são os seus escritores preferidos? Por quê?

Homero, Virgílio, Dante Alighieri, Torquato Tasso, William Shakespeare, Pietro Metastasio e Carlo Goldoni. Cada um desses escritores contribuíram imensamente com a poesia e o teatro. Criaram caracteres heroicos ou cômicos, de muita personalidade e força dramática. Descreveram situações emocionais utilizando o melhor da beleza literária e das formas clássicas. Gosto muito dos dramaturgos gregos também, como Ésquilo, Eurípides e Sófocles, que são os pais da tragédia grega, que tanto influenciou a poesia e o teatro musicado no Ocidente, em uma época tão remota. Não posso deixar de citar também Dostoiévsky, que adentrou a psicologia humana e criou cenários e personagens muito marcantes da literatura.


3 - Como é o seu cotidiano?

Tento conciliar a vida profissional com a vida intelectual. Gosto muito do trabalho de ler, escrever, traduzir, ouvir música erudita e também compor. Contudo, as obrigações com meu trabalho de programador me consomem a maior parte do dia e tento, com o tempo que sobra, me dedicar às outras atividades artísticas e literárias.


4 - Quantos livros publicou?

Apesar de ter escrito alguns poemas e músicas instrumentais para orquestra e conjuntos de câmara, nunca publiquei nada. Apenas guardo-os comigo.


5 - Quais foram as suas alegrias literárias?

Ter escrito uma peça para orquestra que julgo de boa qualidade musical e que é um prelúdio para um poema que estou escrevendo.

É uma alegria pessoal, porque pouca gente conhece essa partitura. Mas sentia que alcançava meu desejo enquanto escrevia essa obra.


6 - Quais foram as suas frustrações literárias?

Nunca publiquei nada até hoje. Ou seja, nada do que escrevi foi lido por ninguém, a não ser poucas pessoas para quem submeti meus textos ao julgamento. Algumas gostaram, outras não. Na maioria das vezes recebo devolutivas de que devo me empenhar para escrever sobre temas que interessem mais ao público contemporâneo, que é dado às coisas que considero fúteis, como super-heróis, temas burlescos ou então que envolvam mais aspectos da modernidade. Sempre penso que se precisar disso para um dia ter sucesso é melhor que nunca o conquiste, pois não quero desviar minha obra do seu foco primordial, que é o drama poético musicado, com seus temas clássicos.


7 - Qual é o seu objetivo na literatura?

Construir obras que combinem diversas artes simultaneamente. Acredito que a poesia e a música nasceram juntas, pois não consigo conceber a ideia de que as primeiras manifestações musicais humanas não tenham se dado por meio do canto, que é a fusão dessas duas artes, que aos poucos foram se desacoplando e se desenvolvendo isoladamente, uma vez que o cultivo da música instrumental se difundiu e os poemas foram escritos e publicados também de forma independente da música. Uma terceira arte, o teatro, é também uma manifestação poética e musical. Minha ambição é escrever textos poéticos que sejam musicados para a representação teatral com o uso da orquestra e do canto lírico, ou seja, a composição de óperas.


8 - Você julga a escrita superior à oralidade? Por quê?

Sim, a escrita é a fixação das ideias, dos pensamentos e da arte e também sua documentação física e definitiva. A tradição oral foi uma forma de transmitir arte e conhecimento por muitos séculos, porém acredito que com uma perda de originalidade com o passar do tempo, com a geração de várias versões para um mesmo fato e à tendência de se exagerar os acontecimentos narrados para tornar a história contada mais interessante para os ouvintes. A oralidade é uma forma mais performática de se emitir o teor da arte, enquanto a escrita põe o conteúdo de forma autêntica, conforme a intenção original do autor.


9 - Como você se organiza para escrever?

Trabalho até às 18h. Fico livre para ler e escrever a partir das 19h. Tento me isolar no meu quarto, onde tenho meus livros e o computador, no qual escrevo meus poemas e edito minhas partituras. Tento me empenhar para não perder a atenção, pois moro com minha família que, por não compreender a importância que essas coisas têm para mim, me interrompem e me convidam, durante o pouco tempo que tenho para me dedicar a essas atividades, para sair, fazer outras coisas diferentes, acreditando que estou fazendo mal para minha saúde com o que desejo realizar. Ter criança por perto também é um obstáculo. Apesar de não ter filhos, os sobrinhos cobram de mim atenção e a participação em suas brincadeiras. Preciso trancar a porta e tentar manter o foco. É sempre um grande desafio, mas tento nunca desistir, escrever sempre, um pouco por dia, mesmo que uma linha. Na maioria das vezes fico frustrado com o que foi possível realizar.


10 - Você quer ser reconhecido? Por quê?

Esse não é meu principal objetivo. Se as pessoas reconhecerem a qualidade e a importância do que realizo, isso para mim é bastante honroso e gratificante. Mas meu compromisso é com a arte. É criar coisas belas. Imitar os artistas que admiro na literatura e na música. É poder tornar reais as ideias artísticas que tenho em mente, independente se isso vai me trazer alguma admiração de alguém ou não. Mas como não faz sentido escrever textos que não serão lidos, penso que ter pessoas que leem o que escrevo é o mais importante como escritor. Enquanto trabalho é nessas pessoas que penso e em como elas receberão o que criei.


11 - O que é um poeta ou um escritor?

Um escritor é alguém que escreve. Isso inclui o poeta. Escrever é uma arte. Talvez a maior de todas. É o que nos torna civilizados. Não consigo perceber algum nível de civilização antes da escrita. Foi a maior conquista humana, desde que surgimos. Exercitar a escrita é o que nos torna racionais, criadores de arte, pesquisadores e povos civilizados.


12 - Todo escritor é vaidoso?

Escritor ou não, o ser humano é sempre vaidoso. A vaidade é uma das nossas características. Todos desejamos ser amados e admirados pelas outras pessoas. Acredito que o escritor é alguém que quer ser percebido. Que quer chamar a atenção para si, mas também para alguma ideia ou para a arte. Caso contrário, não escreveria. O escritor precisa ser lido e discutido, ou então seu trabalho será em vão. Quando a vaidade chega a uma certa medida, em que o escritor não aceita críticas e que seu trabalho precisa de melhorias, então se torna medíocre. O trabalho do escritor precisa sempre ser aperfeiçoado, como qualquer outro trabalho.


13 - Como você lida com o fracasso?

Acho normal. Já escrevi coisas que foram detestadas por algumas pessoas e isso me deixou triste. Mas o gosto de cada um deve ser respeitado e quem lê é mais importante do que quem escreve.


14 - Como você lida com o sucesso?

Nunca tive sucesso com nenhuma das minhas obras, por elas não terem sido jamais publicadas. Mas acredito que teria alegria caso fossem reconhecidas como um bom trabalho. Acredito que vou alcançar o sucesso exatamente no momento em que conseguir demonstrar, com uma obra autoral, que a fusão do teatro com a poesia e o canto acompanhado pela orquestra é a maior de todas as manifestações artísticas, porque estas artes foram, no meu conceito, criadas de forma fundida. 


15 - Qual é o autor contemporâneo que, de fato, você admira? Seja sincero (a).

Nenhum. Ou poucos. Não encontro nos livros de escritores vivos a mesma arte presente nos clássicos que nos deram obras-primas magníficas. Detesto livros semeadores de ideologias. A arte para mim não deve ser politizada, tampouco ser um veículo partidário e ideológico. Procuro não ler nada publicado nesses dias. Me refugio nos clássicos, que são minha tábua de salvação em um mar de mediocridade e propagandismo. A arte é a beleza das formas e isso lhe basta. Detesto doutrinação e manuais de comportamento. Quero ser livre e ter liberdade de expressão independente de qualquer opinião política de outras pessoas. Acredito que o mundo está se dirigindo para um abismo sem volta caso esse tipo de comportamento literário não seja corrigido. Os livros contemporâneos são cheios de lugares comuns, nada surpreendentes, repletos de retórica e vazios de conteúdo. Claro que sempre há exceções, mas muito raras.


16 - Espaço aberto para sugestões de perguntas e palavras finais.

Agradeço pelas perguntas. A entrevista foi ótima. Obrigado pelo espaço para me expressar e falar sobre mim. Seu trabalho é maravilhoso. Você é um ótimo escritor que gosto realmente de ler.

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