05/10/2007
ODE: DA VINGANÇA DA VIDA
Agora que o ódio se apoderou
De mim.
Agora que me encontro
Com todas as
Minhas vísceras
Em sobressalto.
Agora que meu ódio
Não cede nem relaxa.
Agora que minha bílis
Sobe à cabeça e escorre esse azedo rastro.
Agora que não tem mais jeito.
Agora que desnudo
A minha hybris,
A minha volúpia e o meu nojo.
Quero estar a sós comigo.
Quero me despir
De toda minha
Misericórdia
Compaixão.
Quero o ódio
Sobre esse colchão
Escarmentado
E a volúpia
Da noite insone.
Quero desferir
O meu amargo nojo,
A minha revolta, o meu fel.
Sim, amigo!
Eu traio a mulher que eu amo!
Eu cuspo no rosto de quem me adula!
As mulheres não deveriam me amar, mas me amam.
Os homens deveriam odiar-me, mas se subjugam.
Os hipócritas não merecem meu indulto, mas eu os
Perdôo.
A nobreza deveria ser posta abaixo da linha da torpeza.
A dignidade deveria esconder-se atrás dos amontoados
Da mentira.
Ó sim!
Abandonemos todos os tipos de sistemas.
As regras.
Métricas.
Rimas.
As aliterações.
Os jogos de sintaxe.
A ordem estabelecida.
Os cânones.
Os hipérbatos.
As antíteses.
Sínteses.
Teses.
Sub-teses.
As figuras de linguagem.
Oh, amigo!
Não me perguntes como deveríamos
Falar. Não me perguntes como deveríamos proceder.
Como deveríamos nos comportar.
Sim,
Abandonemos os bons modos.
Abandonemos as
Finuras...
As imposturas das posturas.
Abandonemos as moralidades
Desgastadas.
O respeito cortês com os nossos inimigos.
Admitamos, amigo!
O mundo não terá salvação.
O que procuramos nos livros e
Enciclopédias?
A mentira do mundo?
Toda a história é um fragmento
Da mentira do mundo.
O que pretendemos agora?
Criar clones do
Fracasso?
Multiplicar as nossas misérias?
Saiba, amigo!
A guerra
Nunca estará ganha.
A batalha nunca estará ganha.
O amor é uma quimera.
O ódio...
Uma inveja coligida.
Oh, amigo!
A lógica há muito
Que se contradisse.
O que é o amor para um cadáver em meio à guerra?
O que é a compaixão para um mutilado das virtudes Bélicas?
Sim, amigo!
Não devemos alimentar mais a esperança.
Sim, amigo!
Eu vou suprimir todo tipo de esperança.
Ficaremos nus
Sem mais nenhuma esperança.
Veremos sim como somos ridículos.
Desajeitados.
Estorvados.
Sem compostura.
Somos obcecados por uma estética
Que não possuímos.
Para que então precisam de mim?
Oh, amigo!
Posso dar sim todo o meu ódio.
Esse meu abjeto desejo de destruição.
Quero destruir os nossos sonhos.
Os nossos desejos...
Não há salvação, amigo.
Não esperemos por uma nova era.
Somos a síntese do nada...
Da destruição...
Do reconhecimento da incapacidade de todo homem.
Esse ser mimético e complacente.
O que desejamos?
O aplauso da posteridade?
Não, amigo!
Nós seremos vaiados.
Seremos apupados
Na arena da Vingança.
Somente um idiota
Poderá aplaudir outro idiota.
Como poderemos sobreviver
Nos séculos dos imbecis que virão?
Não, amigo!
Não virão homens de bem.
Apaguemos esse sonho doentio.
Essa ilusão mórbida.
A posteridade é uma farsa.
O que queremos que falem de nós?
Que fomos uns homens de bem?
Não!
Não fomos os homens de bem.
Que fomos uns sábios?
Não!
Não fomos sábios.
Gênios?
Homens delicados?
Oh, amigo!
Não há homens delicados.
Há pulhas como eu e você.
Pensa que com os nossos escritos salvaremos a
Humanidade?
Não, amigo!
Nossos escritos não salvarão a humanidade.
É por que nos
Julgamos superiores
A nossos contemporâneos?
Sonhamos que
Sobreviveremos no futuro?
Não, amigo.
O futuro não chegará.
Nossas
Obras serão pisoteadas
Pelas traças dos sebos e
Alfarrábios.
Morreremos na mendicância
Solitários e esquecidos.
Os homens do futuro rirão de
Todos nós.
Oh, Amigo!
Talvez eles dirão:
‘Oh, mas que belos idiotas’.
‘Oh, mas que charlatões da obsolescência’.
E em nossos escritos...
E em nossas tolas
Palavras
Soprará o antifogo de prometeu.
Os nossos fígados serão
Debicados pelos corvos do não
Reconhecimento.
Gritaremos em vão
Pelos píncaros do deserto.
Nossos soluços não serão
Ouvidos nem
Pelas belas Valquírias
Apaixonadas pelos nossos cadáveres.
Nossos sangues escorrerão
Pelo rio do arrependimento.
Arderemos nas
Brasas do esquecimento.
Culminaremos no vazio do deserto.
Oh, amigo.
Seremos o superlativo do excremento.
Seremos seres abandonados.
Seres sem simetria.
Nuança.
O nada será o nosso próprio êmulo.
De que jaez seremos
Quando nos olharmos
No espelho da angústia?
Aí então perguntaremos: por que fomos viver de modo exaustivo?
Por que agora permeia o nada junto a nós?
Seremos lastreados pela discórdia
Dos nossos atos.
O infausto nos acolherá.
A opulência do infinito nos
Acobertará.
Seremos os indigentes dos tártaros.
A nossa transcendência
Será o intocável.
Viveremos do alimento
Da paucidade.
Seremos parcimoniosos
Com os nossos atos.
Mas de nada adiantará.
Viveremos da minudência.
Da remissão de nossos atos.
Teremos o parco como
Recompensa.
O ínfimo e o reles serão os nossos melhores amigos.
O nosso suprimento será a fome.
A miséria.
Haverá uma vazante e
Depois o refluxo.
A dor sobressalente.
O eterno será o indissolúvel.
Teremos o pleno insulamento.
A infusão da phisys em nossa
Putrescência.
Teremos que resolver o nosso próprio litígio.
Antes de nos esvairmos nas brumas voláteis.
Teremos que arrostar a lama.
O tédio.
A imensidão.
Seremos açoitados
Pela noite invernal.
Habitaremos
O pórtico da ignorância.
Viveremos enfim sem mim:
A vida.
A quem o ódio se apoderou
De vez e por onde
Sobressaltam
As vísceras da vingança.
sem revisão final.
são paulo/09.07.2003
wilson luques costa
Agora que o ódio se apoderou
De mim.
Agora que me encontro
Com todas as
Minhas vísceras
Em sobressalto.
Agora que meu ódio
Não cede nem relaxa.
Agora que minha bílis
Sobe à cabeça e escorre esse azedo rastro.
Agora que não tem mais jeito.
Agora que desnudo
A minha hybris,
A minha volúpia e o meu nojo.
Quero estar a sós comigo.
Quero me despir
De toda minha
Misericórdia
Compaixão.
Quero o ódio
Sobre esse colchão
Escarmentado
E a volúpia
Da noite insone.
Quero desferir
O meu amargo nojo,
A minha revolta, o meu fel.
Sim, amigo!
Eu traio a mulher que eu amo!
Eu cuspo no rosto de quem me adula!
As mulheres não deveriam me amar, mas me amam.
Os homens deveriam odiar-me, mas se subjugam.
Os hipócritas não merecem meu indulto, mas eu os
Perdôo.
A nobreza deveria ser posta abaixo da linha da torpeza.
A dignidade deveria esconder-se atrás dos amontoados
Da mentira.
Ó sim!
Abandonemos todos os tipos de sistemas.
As regras.
Métricas.
Rimas.
As aliterações.
Os jogos de sintaxe.
A ordem estabelecida.
Os cânones.
Os hipérbatos.
As antíteses.
Sínteses.
Teses.
Sub-teses.
As figuras de linguagem.
Oh, amigo!
Não me perguntes como deveríamos
Falar. Não me perguntes como deveríamos proceder.
Como deveríamos nos comportar.
Sim,
Abandonemos os bons modos.
Abandonemos as
Finuras...
As imposturas das posturas.
Abandonemos as moralidades
Desgastadas.
O respeito cortês com os nossos inimigos.
Admitamos, amigo!
O mundo não terá salvação.
O que procuramos nos livros e
Enciclopédias?
A mentira do mundo?
Toda a história é um fragmento
Da mentira do mundo.
O que pretendemos agora?
Criar clones do
Fracasso?
Multiplicar as nossas misérias?
Saiba, amigo!
A guerra
Nunca estará ganha.
A batalha nunca estará ganha.
O amor é uma quimera.
O ódio...
Uma inveja coligida.
Oh, amigo!
A lógica há muito
Que se contradisse.
O que é o amor para um cadáver em meio à guerra?
O que é a compaixão para um mutilado das virtudes Bélicas?
Sim, amigo!
Não devemos alimentar mais a esperança.
Sim, amigo!
Eu vou suprimir todo tipo de esperança.
Ficaremos nus
Sem mais nenhuma esperança.
Veremos sim como somos ridículos.
Desajeitados.
Estorvados.
Sem compostura.
Somos obcecados por uma estética
Que não possuímos.
Para que então precisam de mim?
Oh, amigo!
Posso dar sim todo o meu ódio.
Esse meu abjeto desejo de destruição.
Quero destruir os nossos sonhos.
Os nossos desejos...
Não há salvação, amigo.
Não esperemos por uma nova era.
Somos a síntese do nada...
Da destruição...
Do reconhecimento da incapacidade de todo homem.
Esse ser mimético e complacente.
O que desejamos?
O aplauso da posteridade?
Não, amigo!
Nós seremos vaiados.
Seremos apupados
Na arena da Vingança.
Somente um idiota
Poderá aplaudir outro idiota.
Como poderemos sobreviver
Nos séculos dos imbecis que virão?
Não, amigo!
Não virão homens de bem.
Apaguemos esse sonho doentio.
Essa ilusão mórbida.
A posteridade é uma farsa.
O que queremos que falem de nós?
Que fomos uns homens de bem?
Não!
Não fomos os homens de bem.
Que fomos uns sábios?
Não!
Não fomos sábios.
Gênios?
Homens delicados?
Oh, amigo!
Não há homens delicados.
Há pulhas como eu e você.
Pensa que com os nossos escritos salvaremos a
Humanidade?
Não, amigo!
Nossos escritos não salvarão a humanidade.
É por que nos
Julgamos superiores
A nossos contemporâneos?
Sonhamos que
Sobreviveremos no futuro?
Não, amigo.
O futuro não chegará.
Nossas
Obras serão pisoteadas
Pelas traças dos sebos e
Alfarrábios.
Morreremos na mendicância
Solitários e esquecidos.
Os homens do futuro rirão de
Todos nós.
Oh, Amigo!
Talvez eles dirão:
‘Oh, mas que belos idiotas’.
‘Oh, mas que charlatões da obsolescência’.
E em nossos escritos...
E em nossas tolas
Palavras
Soprará o antifogo de prometeu.
Os nossos fígados serão
Debicados pelos corvos do não
Reconhecimento.
Gritaremos em vão
Pelos píncaros do deserto.
Nossos soluços não serão
Ouvidos nem
Pelas belas Valquírias
Apaixonadas pelos nossos cadáveres.
Nossos sangues escorrerão
Pelo rio do arrependimento.
Arderemos nas
Brasas do esquecimento.
Culminaremos no vazio do deserto.
Oh, amigo.
Seremos o superlativo do excremento.
Seremos seres abandonados.
Seres sem simetria.
Nuança.
O nada será o nosso próprio êmulo.
De que jaez seremos
Quando nos olharmos
No espelho da angústia?
Aí então perguntaremos: por que fomos viver de modo exaustivo?
Por que agora permeia o nada junto a nós?
Seremos lastreados pela discórdia
Dos nossos atos.
O infausto nos acolherá.
A opulência do infinito nos
Acobertará.
Seremos os indigentes dos tártaros.
A nossa transcendência
Será o intocável.
Viveremos do alimento
Da paucidade.
Seremos parcimoniosos
Com os nossos atos.
Mas de nada adiantará.
Viveremos da minudência.
Da remissão de nossos atos.
Teremos o parco como
Recompensa.
O ínfimo e o reles serão os nossos melhores amigos.
O nosso suprimento será a fome.
A miséria.
Haverá uma vazante e
Depois o refluxo.
A dor sobressalente.
O eterno será o indissolúvel.
Teremos o pleno insulamento.
A infusão da phisys em nossa
Putrescência.
Teremos que resolver o nosso próprio litígio.
Antes de nos esvairmos nas brumas voláteis.
Teremos que arrostar a lama.
O tédio.
A imensidão.
Seremos açoitados
Pela noite invernal.
Habitaremos
O pórtico da ignorância.
Viveremos enfim sem mim:
A vida.
A quem o ódio se apoderou
De vez e por onde
Sobressaltam
As vísceras da vingança.
sem revisão final.
são paulo/09.07.2003
wilson luques costa
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