ATÉ NA MORTE O POETA ANTONIO CICERO FEZ POESIA: FEZ USO DESSA VEZ DO EUFEMISMO
Tive contatos por e-mail com Antonio Cicero. Como já tive oportunidade de citar, sou seu leitor e admirador. Seu livro de ensaio sobre poesia e filosofia reli inúmeras vezes e relerei. Adoro as suas letras musicadas por Marina Lima, sua irmã, e outros músicos. Antonio Cicero admirava a literatura grega, romana e as obras clássicas. Era leitor de inúmeros filósofos. Era um poeta que dialogava com a métrica, sobretudo o soneto. Era não obstante tudo isso um admirador da modernidade. Gostava dos poetas marginais e dos concretistas paulistas. Escreveu poucos livros em vida. Antonio Cicero me parecia muito tímido. Todos são unânimes em dizer que era afável e muito educado. Concordo com tudo ou quase tudo que se diz sobre ele e sua obra. Talvez discorde e desconfie que a eutanásia pode ter sido, a meu ver, um disfarce para o cansaço da vida. A sua carta é muito lúcida e carinhosa com todos. Se fosse um suicídio clássico, seria muito doloroso para todos. O seu ato, ao contrário de um suicídio clássico, propõe um debate acerca das formas brandas de morrer, sobretudo para as pessoas que vêm sofrendo com doenças incuráveis. Mas essa solidão, timidez e tristeza não me fazem descartar uma jogada de mestre de quem já não via mais muito sentido na vida. Suíça soa-me apenas como um discreto eufemismo.
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