ENTREVISTA COM MENALTON BRAFF

 


  1. Fale de você: onde nasceu? qual formação? onde vive? o que faz?

Nasci em Taquara, Rio Grande do Sul, Iniciei, influenciado por amigos o Curso de Economia na antiga URGS, por motivos políticos abandonei o curso e o estado, vindo então parar em São Paulo, onde por muitos anos tive de usar documentos falsos, pois havia um mandado de prisão contra mim, por atividades políticas no meio universitário. Foi o tempo em que a vocação escondida sob ideais políticos veio à tona e acabei fazendo o Curso de Letras na Universidade São Judas, de São Paulo, onde completei Pós (Lato sensu) em Literatura Brasileira. 

Vivo atualmente no interior de São Paulo, a quinze minutos de Ribeirão Preto, onde acordo ao canto de sabiás e bem-te-vis, atualmente o lugar onde todo tempo é meu. Escrevo toda manhã, à tarde quase sempre leio, o mesmo faço todas as noites. Desde criança, meu maior prazer é a leitura. 


2 - Quais são os seus escritores preferidos? Por quê?

Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Dostoievski, Lídia Jorge, Vergílio Ferreira, William Faulkner, James Joyce, Virginia Woolf and so on. 

A lista poderia ser bem maior, mas registrei o que estava mais presente na memória. Esses autores sempre disseram alguma coisa pra mim. Temas caros, técnicas narrativas, visão de mundo, entre outras coisas, são as causas de minhas preferências. Sem esquecer aquilo que os Formalistas Russos chamaram de literariedade.  


3 - Como é o seu cotidiano?

Levanto, tomo café, vou ao parque caminhar durante uma hora, volto e vou escrever. Às onze horas a Rô e eu tomamos uma taça de vinho tinto, vejo algumas notícias e é hora do almoço. Às vezes durmo uma hora depois do almoço, tomo um cafezinho e vou ler. Geralmente leio dois livros simultaneamente, um na biblioteca, outro antes de dormir. 

Às 18h minha mulher e eu lemos algum crítico e teórico. Estamos terminando de reler Literatura e Sociedade, de Antonio Candido, discutimos uns minutos e estamos preparados para o jantar. Alguma coisa na televisão, então leitura no quarto. 


4 - Quantos livros publicou?

Já tenho 27 títulos publicados, e dois no forno da editora. Um deles deve sair em dezembro ou primeiro trimestre de 2022. Com a pandemia as coisas andam mais devagar. 


5 - Quais foram as suas alegrias literárias?

Dois prêmios (Jabuti 2000 – livro do ano com a coletânea de contos À sombra do cipreste, e o Prêmio Machado de Assis para romance, da Biblioteca Nacional, com o romance Além do rio dos Sinos). Além disso, algumas críticas me fizeram feliz. Nem todas, claro. 


6- Quais foram as suas frustrações literárias?

Meu romance Que enchente me carrega? participou de vários concursos não chegou a finalista de nenhum. E o considero uma das melhores coisas que escrevi, mas prêmio pouco significa para mim, ocorre que continuou na obscuridade, pois também não teve leitores.


7 - Qual é o seu objetivo na literatura?

Em primeiro lugar e acima de tudo, fazer arte. Considero a dimensão estética o aspecto mais importante da literatura. Na dimensão do conteúdo, gosto de dizer o que me espanta ou que me encanta, isto é, procuro expressar minha visão de mundo sem panfletismo, claro, pois não me sinto dono da verdade. E minha visão de mundo é posta na vida e na boca das personagens. 


8 - Você julga a escrita superior à oralidade? Por quê?

A oralidade é anterior, mas a escrita foi fruto da necessidade de registrar o conhecimento, a emoção. A oralidade tem uma abrangência mais curta, a escrita viaja além do que alcança minha voz. 


9 - Como você se organiza para escrever?

Bem, eu praticamente estou sempre organizado para escrever. Tenho minha sala, onde me fecho quando quero, onde tenho tudo pronto para sentar e trabalhar. Geralmente quando me ocorrem frases ou ações já deixo anotadas para a próxima vez em que me sentar à frente do computador. 


10 - Você quer ser reconhecido? Por quê?

Não, eu não quero ser reconhecido, não tenho essa necessidade. Mas quero que minha obra o seja. Acho que tenho alguma coisa a dizer e digo fazendo arte, então o reconhecimento é o corolário do meu trabalho. 


11 - O que é um poeta ou um escritor?

Não creio nessa diferença. Todo poeta é escritor, pois lida com as palavras “mal surge a manhã”. E todo escritor de literatura, que também trabalha com a palavra, não pode prescindir da alguma poeticidade. Aliás, em meu modo de ver a aproximação entre poesia e prosa tende a ser cada vez maior. A prosa sem alguma poesia não serve à literatura. 


12 - Todo escritor é vaidoso?

Assim como todo pai. A vaidade do que se criou. Quando uma obra não me envaidece, jogo na lixeira. E isso já aconteceu muitas vezes. 


13 - Como você lida com o fracasso?

Fracasso é uma coisa muito aborrecida, mas se não se sabe como contorná-lo ou superá-lo então é um desastre. Hoje, que já perdi toda pretensão a ser perfeito, como na adolescência, convivo tranquilamente com ele. 


14 - Como você lida com o sucesso?

Sucesso é uma coisa perigosa. Provoca uma euforia que pode sufocar a capacidade criativa. Sucesso é bom, mas deve ser tratado com humildade, pois nem sempre ele pode ser alcançado. 


15 - Qual é o autor contemporâneo que, de fato, você admira? Seja sincero (a).

São vários. O Milton Hatoun, o Júlian Fuks, a Lídia Jorge, Ian Mc Ewan, Teolinda Gersão, Lobo Antunes.


16 - Espaço aberto para sugestões de perguntas e palavras finais.

Bem, acho que literatura é uma ponte entre quem diz e quem ouve, uma ponte em que o discurso do ódio não passa, mas por onde almas abraçadas passam dançando alegres e felizes. 

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