ENTREVISTA COM O POETA E ESCRITOR PEDRO VALE



1- Fale de você: onde nasceu? qual formação? onde vive? o que faz?  

Eu nasci no Porto, mas sou de Guimarães. Licenciei-me em Português e Inglês em Bragança entre 1997 e 2001 e trabalho e vivo no Funchal desde setembro de 2002. Vivi um ano em Lisboa antes de ter vindo para a Ilha da Madeira.


2- Quais são os seus escritores preferidos? Porquê?

Escolheria cinco mais um: Pessoa, Hemingway, Kafka, Proust, Joyce e, finalmente, Dostoievski. Todos foram importantes em diferentes fases da minha vida e continuam a sê-lo. São meus conselheiros e amigos!


3- Como é o seu cotidiano?

O meu dia-a-dia mudou imenso. Antes de ter saído o meu primeiro livro era muito tranquilo. Lecionava, estudava (na universidade), escrevia, lia, apanhava sol, fazia caminhadas na montanha, assistia a filmes e concertos, deambulava pelas galerias da cidade e seus jardins. Desde setembro de 2017 que tudo mudou. A prioridade é o trabalho, mas tenho dedicado muito do meu tempo livre à divulgação do Azul.


4- Quantos livros publicou?

Só tenho o Azul Instantâneo publicado e já me apareceram os primeiros cabelos brancos. Coincidência ou (talvez) não!


5- Quais foram as suas alegrias literárias?

A primeira grande alegria literária foi ter vendido 400 exemplares da primeira edição impressa em três meses. A maior alegria desde março de 2018 tem sido a de ser lido (julgo que) diariamente em vários países de expressão portuguesa, através da versão digital da obra que tenho partilhado gratuitamente. Outra enorme alegria prende-se com as doze apresentações do livro que realizei em várias escolas daqui da ilha e do norte do país. Mas, o que me deixa mais feliz é a possibilidade do livro ou de eu próprio poder(mos) ajudar imensas pessoas. É o contacto com os outros a minha maior alegria.


6- Quais foram as suas frustrações literárias?

Nos três meses que antecederam o lançamento do livro tive de tomar decisões em várias matérias e senti-me bastante frustrado, por exemplo, por não ter conseguido reunir as condições para lançar uma edição dupla do Azul Instantâneo. As propostas das editoras também foram frustrantes, de certo modo. Hoje já percebo melhor como funciona o mercado editorial e não me arrependo nem um pouco das minhas escolhas de há quase quatro anos. Também tenho aprendido muito com os erros cometidos na divulgação da obra. Vou-me procurando adaptar o melhor possível às novas ferramentas e linguagens que surgem a um ritmo alucinante (nas redes sociais) sem nunca abdicar da minha própria filosofia. O melhor marketing são os nossos sonhos!


7- Qual é o seu objetivo na literatura?

Nunca pensei nessa questão. Sinceramente. Contudo, se fosse obrigado a dar uma resposta, diria que é o de chegar aonde o caminho me levar. 


8- Você julga a escrita superior à oralidade? Porquê?

Não, de todo. Cada forma de expressão tem a sua importância. Está até muito em voga nos países ocidentais o regresso às histórias contadas. A sabedoria ancestral dos nossos antepassados deve ser partilhada com as novas gerações, principalmente através da oralidade e da escrita. Cada um de nós é uma espécie de deus e nunca devemos esquecer-nos disso. Lembrei-me de John Donne: “Nenhum homem é uma ilha”.


9- Como você se organiza para escrever?

Sou muito desorganizado, mas tenho sempre uns cadernos comigo. Um em cada mochila ou mala. Vou escrevendo em prosa ou em verso. Em casa dedico mais tempo à leitura. Na rua qualquer estímulo me faz vibrar e escrever. Divirto-me assim. Que me perdoem Camões e Machado de Assis!


10- Você quer ser reconhecido? Porquê?

Eu não quero ser reconhecido, mas são as regras do jogo. Se somos autores, a obra vende-se tanto por si como pelo seu autor. Gostaria que se vendesse por si, pois sempre fui muito reservado. A fama não é nenhum objetivo pessoal, mas se vier eu quero estar numa ilha deserta. E sem internet (risos).


11- O que é um poeta ou um escritor?

É um mensageiro. 


12- Todo escritor é vaidoso?

A mim nunca me interessou essa particularidade na vida dos escritores. Só as suas obras. Por isso, não sei responder.


13- Como você lida com o fracasso?

Tenho-me preparado imenso para isso. Até ao momento tenho andado nas nuvens com o interesse pelo meu primeiro livro, mas o que me vai ajudar no meu crescimento serão os fracassos que estarão por vir. Tenho-me preparado para isso. Leva tempo.


14- Como você lida com o sucesso?

Nunca fui de adulações e, por outro lado, não cheguei onde estou sozinho. Importam-me mais as histórias. Ainda me recordo da primeira leitora que, meia hora depois, regressou para me pedir um autógrafo e reclamar comigo por não o ter feito no momento da sua compra. O sucesso acarreta sempre responsabilidades.


15- Qual é o autor contemporâneo que, de fato, você admira? Seja sincero.

Sem querer ser injusto com os demais, gostaria de realçar a poesia de João Luís Barreto Guimarães, um médico, tradutor e poeta da cidade do Porto. Já li e reli vários dos seus livros e reconheço-lhe um talento muito raro. A obra “Nómada”, de 2018, editada pela Quetzal Editores é a que mais me tocou


16- Espaço aberto para sugestões de perguntas e palavras finais.

Porque ainda estamos no verão aqui em Portugal, deixo um poema do poeta e professor universitário Carlos Nogueira Fino, aqui da Ilha da Madeira, retirado da obra “poemas de ilha mar, de 1986”:


XII


o verão é um corpo

justaposto lago e penumbra

cerco ondulatório de investidas

ao sul do hemisfério dúvidas

anfíbias de manhãs desusadas


há um gesto inquieto quando é noite

e se mudam as águas

creme de lábios descolados

na indecisão de aspirar os corpos

ou as brisas.

cio litúrgico a pela à flor das mãos

intersectando os passos

imagem sazonal ou de perfil

de esboço verde de mulher

há muito tempo acontecendo nos olhos









Comentários

  1. Olá Fátima. Muito prazer e muito obrigado. Se desejar ler o livro basta procurar por mim aqui na Internet. Abraços poéticos de Portugal!

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