ÉRICO MARIN
ÉRICO MARIN
Se há uma coisa que se discute, mesmo nos pequenos círculos, mesmo
que numa forma minimalista, é o fazer poético.
Poetas são muitos.
Mas poesia é para poucos.
E poucos são os poetas de jaça, que caem na lama
à procura de sua aura.
Acho que ao contrário da filosofia que vai liberando as suas
proles; a poesia já não, acolhe os mais variados matizes.
De maneira que há o poeta-jornalista; há o poeta-professor universitário;
há o poeta-senador- deputado; há o poeta-rebelde-vigarista; há o
poeta-marginal-marginal e há também o poeta-burocrata.
De modo que sempre um poeta caberá em algum balaio.
Basta saber se comunicar bem com os quais se identifica.
E pronto: estará formada a irmandade.
Garantir-se-á pelo menos a imortalidade por aqueles quinze
minutos.
Já a filosofia, só é filosofia enquanto filosofia.
A sociologia, a psicologia, a estética, e outros, já foram seus rebentos,
mas há muito já pediram alforria e se emanciparam.
E a filosofia continua aquele tronco viçoso a questionar, a
perguntar sobre as coisas inúteis.
O filósofo das coisas inúteis, imprestáveis ao dia a dia.
Mas penso que - à margem de toda e qualquer classificação - há sim
o poeta-poeta.
Poeta-tronco.
Viço no corpo.
Cristal e lâmina nas palavras.
E se querem um exemplo lhes darei: falo de um total desconhecido,
um garoto de 27 ou 28 anos que nunca saiu em revista, que nem sonha que estou
falando dele nesse blog.
Trata-se de um garoto, que a despeito ou não de qualificá-lo, não
resta outra palavra, a não ser chamá-lo de poeta.
Não tem livro publicado.
E como aqueles dos mimeógrafos, vive elaborando
de forma artesanal os seus textos tão instigantes.
Já os li, seus versos, poemas, em plena sala de aula.
E têm força.
O nome de seu autor é Érico Marin.
Não é formado nas 'grandes' universidades; não é
poeta-jornalista; não é poeta-editor; não é poeta-senador, nem
deputado.
É poeta-poeta.
Não nos resta outra palavra para o que escreve em suas
garrafas-textos lançadas ao mar do mundo.
Quando leio Marin, acabo compreendendo o que seja, efetivamente, poeta.
Und légomai...
PERSPECTIVA
Os bairros respiram
Ganido metálico
Luzes profundas distribuídas
pelos tetos
pelos postes.
Palco de atrocidades,
a noite acolhe-os
insatisfeitos de sempre
e perdoa os crimes condenados
pelo Sol.
Bairros estendidos ao longo das rodovias.
Sinais longínquos
mares de breu salpicados de lâmpadas,
luminárias.
O sol se recusa a brilhar. Atrás das janelas,
as cortinas. Atrás dos sorrisos, as centelhas sufocadas.
Deus distribui esperança em doses insuficientes.
Os livros de autoajuda só nos ensinam como melhor chafurdar
na lama
quando, na verdade,
o que queremos mesmo
é sair dela.
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