ERNESTO MOAMBA

SENTENÇA

                [À todas mulheres do mundo]


Minha mãe

Sou terra seca,

Bebendo das aguas dos rios

Que defecas dos teus olhos feridos...

Mãezinha.


Ernesto Moamba

(Filho da África)




Minha mãe

Sobre o meu corpo

Tua gente discorreu minas de ferro

Como se eu fosse a própria terra

molhada e estuprada de pedras

Deitada e entulhada de areia batida


Que estas mãos incansaveis,

gemeram de orgasmo tentando construir

De pedra em pedra transpirando oceanos sangue.


SENTENÇA NEGRA

( Protesto em momentos de pandemia)


Mãe

Se quiserdes, prolonga mais a quarentena

Manda novamente encerrar as empresas, as lojas e os comércios que sobraram

Proibe o movimento e uso de dinheiro ou crie mais um exército de vírus


Porque lá na terra do negro

Na minha África esquecida

Minha gente não morre de fome

Muito menos de cede

A comida é o que tem demais

Nas ruas meu povo até joga para os cães

Que famintos vandiam pelas cidades


Lá não existe pobre

A riqueza é o que tem demais

Minha gente não sai as ruas

Para mendigar aos ricos e colher os restos

Todo mundo é honesto

E leva a vida de Minístro

 [...]


Mãe

Se o meu tempo chegar

E a Pandemia quiser me torturar

Que não use a força nem violência

Muito menos os vírus porque não me darão efeito

Mas sim, me torture com as palavras, com a poesia ou serenatas

Porque sou um Escritor resistente

Filho legítimo da mãe negra

Que já resisti da escravidão, da fome e da cede.


ENVERGADURA DA COVID-19


Minha Mãe,

A dor é profunda mas ainda não é o fim

Da tua gente esquecida, nobre e humilde

Ainda que não estejam nas cidades ou dentro desta nação 

A estúpida pandemia ainda vai lhes infectar

Como se não as conhecesse de nenhum lugar


Depois de tudo, a covid vai matar

E quando mais ninguém restar

Como rei ficará com todo poder


Usufluirá de tudo até da sua mulher

Quão linda, trabalhadora e doce como ela é,

Os vírus a usará na prostituição

Somente para te envergonhar entre as grandes nações


E os homens, minha Mãe

Perderão tudo que têm de valor

E não serão mais vistos como heróis 

E Depois disso a humanidade não será a mesma

As pessoas tombarão contra si,

As avenidas, as ruas tornar-se-ão em cemitérios

E o mundo transformar-se-á em inferno


E nas empresas de grande  porte

Os funcionários trabalharão sem salários

E os outros despejados sem motivos

E nas rias a produção escassa 

E no fim todos morrerão de fome


Enquanto os  dentetores do poder

Acumularão sua enconomia

Com a produção e venda de alcool, máscaras e clorofinas

Como se fossemos suas vítímas

Mas mesmo assim, ainda não será o fim.


: [...]

À todas crianças da minha África Esquecida


Mamãe, já não vagueio 

Entre linha férrea do comboio

Mas sim,

Entre terras de aboio

Onde adormecem as peugadas do colono.


Ernesto Moamba

[ Filho da África ]

JULGAMENTO 

              ( À minha África Esquecida )


No estômago da minha mãe

Falta-me tudo, menos nada...

Os rolos e embrulhos de tripas, o canal digestivo,

E as veias...Para passagem e drenagem de sangue

Para dar vida ao meu corpo covarde

Enlatado de fome e sede.


Ernesto Moamba

[ Filho da África ]



 [...]

(Aos escribas do Sec.XXI)


Para te tornar grande Poeta ou Poetisa, importa vomitar tudo que reside dentro do seu coração,

Seja sangue ou próprio pulmão


Ernesto Moamba

(Filho da África)



 [...]

( In Memória das vítimas de Ciclone)


Vou-me pelas ruas.      

de estomago vazio e crua

Todo triste e amarrotado

Sedento e soterrado de lama


Colher restos de tristeza

abandonados nas malditas,

da minha preciosa cidade.


Ernesto Moamba

(Filho da África)

© Todos os direitos reservados



Mãe!

Na casa do meu Pai,

Falta-me tudo, menos nada


Falta-me o milho e farinha

O solo, a água, as enxadas e charuas,

Menos a carne e sangue

Para regar-me de tristeza e luto


Sim,

Falta-me a vóz, a cor,

E o escudo

Para libertar-te das algemas

Minha África esquecida.


Ernesto Moamba

[Filho da África]

© Todos os direitos reservados

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