TOLO CABOTINO


 Friday, September 15, 2006

Tolo cabotino 

Estive na Bienal do livro de 2002. Estive por duas noites. A primeira pela editora Scortecci, pela qual publiquei Os Granizos dos Deuses. A segunda pela UBE, que nos concedeu um espaço. Tive a oportunidade, como já informei outras vezes, de levar o Jocenir pela UBE. E olha que o cara tinha saído no Estadão, Folha, Jô e tudo o mais. Mas estava sem espaço, talvez por um descuido de sua editora. E lá na bienal, havia uma universidade, que por sinal foi a minha primeira universidade, colhendo de dez a vinte minutos de relatos dos chamados poetas e escritores brasileiros. E eu fui e participei. Foi a minha primeira para uma tv e talvez a última. Eu, às vezes, sou meio aloprado. E naquela época eu estava a mil por hora. Na hora da entrevista, houve um tipo de encaminhamento. Mas eu pergunto: e adianta encaminhar alguma coisa para essa figura que vos fala? Mas foi assim: ´Então quer dizer que o senhor é um escritor brasileiro... Imediatamente interrompi a foca e lhe disse: ´Não, eu sou um escritor universal...´ E ela ficou toda atrapalhada... E eu lhe aguardando e lhe olhando com o meu riso contido... E ela: será que não poderíamos recomeçar a entrevista... eu me perdi um pouco do script.... E eu lhe falei...sim eu sou um escritor universal, porque escrevo sobre coisas universais... A senhora já imaginou um russo naquela geleira lendo o meu conto que fala de um botche da Vila Ré, com os seus personagens dostoievskianos... E fui falando e falando... E nem sei onde tudo aquilo foi dar... Li trechos dos granizos dos deuses...numa verve endiabrada... Eu estava possuído... Algumas metáforas já aconteceram... Mas acho que ela ficou um pouco em dúvida comigo... Quem era eu ali? Um mero desconhecido... Lançando o seu segundo livro de moto próprio... Numa terra de Machado e toda essa plêiade... E é verdade... Mas eu pergunto: quem dessa finesse que anda por aí tem no seu cv ( num mundo de cv) leituras esparsas em grego no original, e outras e outras... Sem falar em outras que a humildade não me concede... Desculpem-me: eu sei que vou arrumar mais inimizade por aí, mas não me consta que Machado ( o bruxo do cosme velho, que tanto admiro) possuía rudimentos do ático... e se querem saber nem os próprios rudimentos de latim e alemão... Da geração coetânea então, dispenso comentários... O seu cabedal é a fúria dos incontidos... Sempre a mesma azeitona no mesmo pastel (azedo) de amargura, cinco estrelas e cobertura.



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