UMA GRANDE FESTA
Eu lembro que a escrita sempre funcionou para mim como um desabafo. Sendo o papel um amigo confidente. Eu tinha um olhar muito aguçado de alteridade. Embora a angústia residisse em mim na minha relação com o mundo, era uma angústia também de olhar a angústia do outro. Sendo assim, os meus rabiscos ficavam confinados às gavetas ou junto às páginas de algum livro perdido. A primeira tentativa de um conto, foi observando um pedinte na Vila Ré, porque sempre tive uma alma muito suscetível à compaixão. Os poemas eram eventuais, mais como um desabafo mesmo. Digo tudo isso, porque até então não havia junto a mim nenhum propósito de me tornar um escritor, poeta ou coisa parecida. Mas houve um momento que comecei a metaforizar histórias. Fazia alguns deslocamentos do real. Ou seja, embasava-me numa cena e metaforizava algo. Mas esse era sempre um olhar de compaixão com o outro. Houve um instante que incentivado por colegas comecei a pensar em publicar um livro. Isso, de fato, mudou a minha perspectiva de mundo. Isso me causou um desejo de me tornar alguém que tinha valor, posto que escritores, sob a minha ótica de então, tinham valor na sociedade. Isso tudo me levou a um narcisismo às avessas, posto que mudei a relação com o mundo. Saí do anonimato para me tornar alguém com reconhecimento. Aí vieram as primeiras palavras de incentivo, as primeiras publicações, o desejo de mais reconhecimento, porque é uma rosca sem fim. O que interessava era a cada instante subir os degraus. O que importava era a ânsia de reconhecimento. A ânsia infinita de reconhecimento. Quando me vi, nem eu mesmo reconhecia aquele menino que fui um dia. Na verdade, existe um desejo de reconhecimento e esse desejo aumenta em função exponencial até você se tornar escravo das alteridades, não daquelas alteridades, coitados, que você tinha compaixão. Pela alteridade da "art pop" ou "pop art". Ou seja, a literatura no Brasil e no mundo virou uma "Big Party ou para falar no nosso português real": virou "UMA GRANDE FESTA!"
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