Memórias da escola da vida



Lembro-me de uma cena do meu primeiro dia de aula no Carvalho Senne. Não lembro propriamente da aula. Aliás, recordo-me de alguns momentos que me ligaram à escola num todo. Tenho lembranças de fatos e não propriamente das aulas. Se hoje escrevo aqui, creio que isso tem a ver com as aulas que tive, mas que não me recordo mais. Do meu primeiro dia de aula, e penso que essa cena está ligada a esse dia, recordo-me de uma flor meio avermelhada que tinha em profusão nos muros da escola. Era um dia de sol de 1967. Não lembro, no entanto, se era minha mãe ou a minha tia que me levara. Nem me lembro do trauma ou alegria do primeiro dia. Lembro sim de uma prova oral que fazíamos no final do ano e que tirei 98. As notas iam até 100 naquela época, mas depois mudou para 10, 9, 8, a, b, c, d, e... Fiquei em segundo lugar, só atrás do Carlos que vez em quando vejo aqui na vila ré. Pelo jeito o Carlos não prosseguiu nos estudos. Mas tinha caligrafia. O que mais lembro é dos meus colegas Zé Luiz, João Luiz e o Du, que fiquei sabendo que faleceu. Lembo vagamente de uma aula de matemática de produtos notáveis e da minha dificuldade em realizar certos problemas. Lembro-me do professor Oduvaldo de Biologia que era um pouco irônico comigo, porque a minha nota era 5 ou 4 sempre. E ele fazia um tipo de suspense e dizia: 4 com louvor e nós ríamos à beça. Ou me ameaçava com um inaudito dez e dizia 2,5 e eu ria mais ainda. Notem que eu não era diferente de muitos de agora. Lembro-me também de uma professora de biologia que brincava muito comigo e que me chamava de chanceller pela minha não adiposidade e eu lhe respondia sou o fino que satisfaz que era o bordão do cigarro e ela ria um riso lindo, porque era uma loirinha linda e novinha. De português lembro daquelas aulas enfadonhas da Teresa. A Teresa posava de séria, mas descobrimos que teve um caso com o professor de matemática e aí ela se pirulitou do colégio para o nosso alívio e alívio dela também. Tive aulas de inglês com um professor bem fresco que nos fazia dizer th (d). Nas aulas de música com a Eliana solfejávamos e admirávamos a belíssima professora. Fazíamos também um pouco de algazarra com sol, lá, si, dó ré....e ríamos a rodo. Nas aulas de francês eu me recordo de um painel com os diálogos. Decorei toda uma lição, que até hoje me facilita para a leitura do francês. Em química só jogava sete e meio. Hoje corro atrás. Não tínhamos filosofia. Mas tenho o livro Diálogos de Platão daquela época. Tenho saudade do futebol de campinho nos terrenos baldios próximos da escola. Das aulas de física eu não gostava porque eram depois das onze da noite. Era a chamada sexta aula. Saíamos onze e meia ou onze e quarenta. Escrevo isso por julgar muito pouco o que recordo da escola, porque foram onze anos contando com a minha reprovação no segundo colegial. Mas a escola nos marca de uma maneira ou outra. Não levo lembranças decisivas na minha formação. Nem posso dizer que esse ou aquele professor me marcou indelevelmente como muito se diz por aí. Tenho lembranças. Sei que aprendi muitas coisas e principalmente com a vida que é outra escola. Mas é pena que a vida nem os livros não nos dão nenhum certificado. É como dizia Schopenhauer : as pessoas estão mais interessadas naquilo que você representa, do que naquilo que você efetivamente é´. E convenhamos: não somos um mero certificado dependurado na parede da sala ou somos?

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