RACHEL MEMORIALISTA
Texto encaminhado pela escritora, poeta, jornalista e free lance Ieda Estergilda de Abreu.
A escritora Rachel de Queiroz (1910-2003 ), que soube transformar vida e literatura numa coisa só, sempre desconfiou dos relatos memorialísticos.
Em encontro com o escritor, professor e jornalista *Hermes Rodrigues Nery, registrado pelo jornal O Escritor, da União Brasileira de Escritores-UBE, em dezembro de 2003, Rachel tece preciosos comentários sobre o assunto.
Aqui estão alguns trechos:
“Você, quando se propõe a fazer memórias, dificilmente se expõe. A impressão que temos, muitas vezes, é que você quer se justificar das coisas que fez, no fundo acaba fazendo mesmo uma maquiagem do que foi.
Mesmo quando seu senso crítico é apurado, você acaba se traindo, principalmente quando a vaidade domina o tom dos seus apontamentos.
Nunca escrevi memórias e creio que nunca escreverei.
Há coisas da minha vida que interessam somente a mim, são coisas minhas que levarei comigo, porque é muito difícil compartilhar (...) é muito difícil em apontamentos para memórias ir a fundo na questão, no total desnudamento.
A ficção é muito mais reveladora.
A sua memória para as coisas vividas é sempre mais seletiva; e há coisas que você acaba não contando, até porque tem que falar também dos outros que participaram dessas coisas vividas, junto com você.
E como dá para ser imparcial num relato de memórias?
É difícil.
Qualquer apontamento é pouco, sempre muito pouco.
Cada um de nós sabe o que pesa, o que gratifica.
É quase impossível refazer o percurso.
Em vez de contar a vida, melhor mesmo é vivê-la”.
*Rachel de Queiroz, autora dos romances O Quinze, João Miguel, Caminho das Pedras, Memorial de Maria Moura, entre outros.
* Hermes Rodrigues Nery é autor de A Presença de Raquel (FUNPEC editora, 2002).
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