SÉRGIO DE CASTRO PINTO







Fiz algumas perguntas orientadoras para o escritor, poeta e professor Sérgio de Castro Pinto. As perguntas já estão inseridas em suas respostas. Vejam abaixo:


Nasci na cidade de João Pessoa, Paraíba, no ano de 1947. Tenho setenta e quatro anos. Melhor: já os tive, pois seria muito otimismo de minha parte dizer que ainda tenho o que foi já vivido. A propósito, lembro o meu poema outono, ainda inédito em livro:



as folhas

do calendário

que caem


dia a dia

mês a mês

ano a ano


são as folhas secas do meu outono


          E outro que escrevi quando ingressei na casa dos setenta, que não é bem uma casa, mas um pardieiro: 


o poeta septuagenário


o poeta

arrasta

os pés


e tropeça

nos versos

de pés

quebrados.


o poeta

não mais

se inspira.


o poeta

só inspira

cuidados.



          Fiz Direito, mas não fiz muito direito. Minha praia sempre foi a literatura, tanto que a lecionei na Universidade Federal da Paraíba, onde defendi dissertação de mestrado sobre Manuel Bandeira e tese de doutoramento a respeito de Mario Quintana, poetas que possuem muito em comum, pois na obra de ambos “as pequenas grandezas do universo”, as coisas simples, os sobejos de Deus, possuem um lugar cativo, um lugar de destaque. Isso sem contar que investem na linguagem coloquial, prosaica, além de mesclarem a tradição com a renovação, embora esta última, por não serem pirotécnicos, a exemplo de Oswald de Andrade, tenha tudo para passar despercebido pelo leitor e até mesmo pelo crítico menos atento.

         

Hoje, estou aposentado como professor titular.


             Quanto aos escritores preferidos, são muitos. E cada vez que os leio, eles me oferecem leituras diferentes, a exemplo de Machado de Assis, que não é um, mas trezentos-e-cinquenta, para me valer de um verso de Mário de Andrade. Quero dizer, Machado é um quando o leitor é adolescente; e outro, quando o leitor atinge a idade adulta. Enfim, os autores com os quais mantenho “afinidades eletivas” são tantos quanto as estrelas do céu e os grãos de areia na praia. E com eles dialogo.


              Publiquei nove livros de poesia e quatro de ensaio. Na verdade, não sou um autor caudaloso, mas avaro, parcimonioso, pois exerço uma autocrítica até certo ponto flageladora a propósito do que escrevo. A minha poesia é uma amante de 54 anos, cujo relacionamento com o ancião de 74, às vezes é conturbado, pois, arredia, caprichosa, quase sempre se entrega ao mutismo, ao silêncio mais sepulcral durante meses e meses. Em todo o caso – e como já disse noutra ocasião –, nesse relacionamento o poeta é um gigolô sustentado pela poesia, uma vez que ela o faz suportar os momentos de crise, o fardo da existência, os desequilíbrios emocionais...   


              Uma das alegrias que a literatura me proporcionou foi quando conquistei um dos prêmios do Concurso Nacional de Contos do Paraná. Sabedor do resultado, foi-me difícil conciliar o sono, pois – na esteira de Mário de Andrade – fui acometido por uma espécie de insônia feliz. Outra alegria? Quando li a respeito de minha poesia em livro. Gilberto Mendonça Teles e Temístocles Linhares foram os responsáveis por esse contentamento quando escreveram sobre “Domicílio em trânsito” nos livros “Camões e a poesia brasileira” e “Diálogos sobre a poesia brasileira”.


              Creio que não se deve falar de hierarquia entre a literatura que se expressa através da escrita e a que se expressa oralmente. Uma e outra se complementem, se fundem, se inter-relacionam, se mesclam, na medida em que uma se nutre da outra. É só ver a poesia de Bandeira, a de Ascenso Ferreira e a ficção de José Lins do Rego.

 


              Sou meio indisciplinado, não possuo um método para escrever, embora busque sofregamente, na medida do possível, o poema ainda informe, ainda no seu estado de embrião, inconcluso, nas zonas nebulosas do inconsciente. E quando o encontro, puxo-o aos poucos, sem deixar que a emoção prevaleça acintosamente sobre os sentimentos. Procuro não reincidir no equívoco dos jovens poetas que, quase sempre, deixam as emoções correrem como cavalos bravios, doidos, desembestados, à frente da linguagem que, ainda verde, não possui a faculdade de serenar o vespeiro dos sentimentos.


              Sonhava com a aposentadoria e com o tempo livre que ela me proporcionaria para eu me entregar em tempo integral e dedicação exclusiva aos meus poemas, aos meus ensaios e à leitura. Hoje, já com setenta e quatro anos, cheguei à conclusão de que não disponho mais de tanto tempo. Então, se o tempo urge, mãos à obra. E sem perda de tempo!        


  




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