SILAS CORRÊA LEITE



1 - Fale de você: onde nasceu? qual formação? onde vive? o que faz?

-Nasci em Monte Alegre Pr, hj Telêmaco Borba, criado desde os seis meses de idade em Itararé-SP, terra de meus pais, da qual sou Cidadão Honorário e autor do Hino ao Itarareense. Tenho casa em Itararé cidade histórica, divisa com o noroeste do Pr, mas moro e trampo em SP. Fiz Direito, Geografia e outros cursos de pós e extensões, além de bolsista pesquisador da FAPESP-USP em Culturas juvenis e diplomado conselheiro em Direitos Humanos e Cidadania.

2 - Quais são os seus escritores preferidos? Por quê?

-Entre outros, Érico Veríssimo, Tolstói, Dostoievski, Umberto Eco, Clarice Lispector, Graciliano, Drummond, Fernando Pessoa, Maiakovski, Gabriel Garcia Márquez, etc. Pq amo os que escrevem com loucura, com sangue, com a alma. E deles todos entre tantos outros sou eterno aprendiz, feito uma desparafusada alma humana tentando compreender outra desparafusada alma humana...

3 - Como é o seu cotidiano?

-Com essa pandemia, refém em casa, antes dela, trampo, antes em três escolas, das 6 às 23, agora readaptado por paresia vocal em atividade remota, em torno de seis horas por dia, depois ler, escrever, estudar, fazer resenhas lotar as redes sociais de meus ensaios, resenhas, abobrinhas, e tb humorticidas de Silas e suas “siladas”... enquanto toco vários projetos de romances, contos, poemas, ensaios, etc. Leio vários livros ao mesmo tempo. Escrevo vários livros ao mesmo tempo...

4 - Quantos livros publicou?

-Se não perdi a conta, passam de vinte livros, outros saindo, outros para sair, outros terminando... outros virão?

5 - Quais foram as suas alegrias literárias?

-Alguns prêmios, várias antologias, publicado em vários sites de renome, até no exterior, como no Pravda da Rússia, em alguns de Portugal, da África, e muitos do Brasil como Pátria Latina, entre outros, e elogios de Ledo Ivo, Moacir Scliar, Inácio de Loyola Brandão e Carlos Nejar da ABL, entre outros.

6- Quais foram as suas frustrações literárias?

-Dificuldades para entrar em panelas... sou arredio, não consigo... então sigo eterno emergente ou mesmo neomaldito da web como me rotulou Antonio Abujamra quando me entrevistou no Provocações da Tv Cultura

7 - Qual é o seu objetivo na literatura?

-Escrever para não ficar louco...

8 - Você julga a escrita superior à oralidade? Por quê?

-Acho igual; escrever e contar, é só começar, testamento de um tempo e lugar, feito antenas da época, como preconizou Ezra Pound

9 - Como você se organiza para escrever?

-Sou mal organizado e meio anta em suportes técnicos, mal e mal escrevo. Se eu fosse organizado, escreveria um livro por dia. Cérebro a mil. Vejo livros, como livro, derramo livros, habito livros, ovulo livros...

10 - Você quer ser reconhecido? Por quê?

-Isso não me importa, a fala é reles, disse o escritor do livro Dr Jivago. Escrevendo, escrevivo...

11 - O que é um poeta ou um escritor?

-Um aleijado por dentro que se pendura na corda da arte como libertação

12 - Todo escritor é vaidoso?

-Em tese sim, mas não adianta muito e nem nutre direito o ego

13 - Como você lida com o fracasso?

-Sou filhote do fracasso. Por isso em vez de ser de direita, organizado, rico e morar em Londres, sou pobre pobre pobre, de marré marré marré, mas eu tenho a alma nobre, pois eu sou de Itararé...

14 - Como você lida com o sucesso?

-Não há sucesso. Sou um zero a esquerda das panelas, grupelhos, viver é só ser livro, e assim, livre...

15 - Qual é o autor contemporâneo que, de fato, você admira? Seja sincero (a).

-Nelson Oliveira, Milton Hatoum, Nicodemos Sena, Marcelo Ariel, etc.

16 - Espaço aberto para sugestões de perguntas e palavras finais.

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Silas e Suas “Siladas” – Reversos Primaveris do Facebook

Rações Etílico-Literárias de Pílulas Diárias

“Somente quem tem o caos dentro de si

 pode dar à luz uma estrela bailarina.”

 (Nietzsche)

Como eu nunca fui bom em ciências exatas, sempre me vi criando labirintos de incompletudes, para forjar uma poética de subterfúgio que me desse uma alma própria num mundo de desenganos e irrazões – silas e suas siladas

Do jeito que está a tal civilização contemporânea, existir é crime e sobreviver é impunidade - silas e suas siladas

Parece que astronautas russos acharam pegadas de jumento na lua. Então há esperança de evacuação para nós, pobres mortais comuns - silas e suas siladas

O que uma letra disse para outra letra? - Cuidado, não fique muito ligada nessas vogais e consoantes, que uma hora dessas você vai soar falso sem saber direito o que é - silas e suas siladas

Nem tudo que reluz é fêmea - silas e suas siladas

Toda grávida chora de barriga cheia - silas e suas siladas

Tem gente que só liga o tico e o teco quando tem um surto circuito - silas e suas siladas

Eu não leio livros. Eu como livros. Por isso nunca os esqueço. Não posso devolver o que me iluminou e nutriu, a não ser com a leveza de minha própria viagem de bem existir, e ser também livro aberto de mim mesmo, para a biblioteca insustentável da vida aventurosa que fiz e tive -  silas e suas siladas

Só quem está no fundo do poço sabe o que é submergir debalde - silas e suas siladas

Tem gente que acredita em vida após a morte. Não ser feliz aqui nesse inferno é fogo. Ser feliz nos torna melhores e evoluídos. E uma só vida é sementeira, assim como morrer é orgânico - silas e suas siladas

A vida conjugal é sustentada em sete pilares: cerveja, controle remoto, churrasco, futebol, internet, sexo e Patrícia Pilar - silas e suas siladas (sexta-feira brava é fogo)

O mundo já acabou. Ficaram apenas os poetas loucos clarificando o incompreensível para os perdidos fantasmas sobreviventes do antes - silas e suas siladas

Tem gente tão insossa, que não cheira e nem Freud - silas e suas siladas

O céu é aqui, o purgatório é aqui, o inferno é aqui. Depende do lado que você está e o que plantou aqui para colher dentro do seu céu particular ou de seu inferno íntimo - silas e suas siladas

Se escrever poesia, não dirija. O poema pode sair de órbita e você literalmente também entrar numas - silas e suas siladas

Tem gente que já sacou que não vai a lugar nenhum, então fica aporrinhando gente que está voando a viagem de seus sonhos, tentando camuflar neuras e empacar libertações. Se não sabe voar, se toque, sai de baixo... libere a pista e fique pousado tomando conta de fantasmas que não existem - silas e suas siladas

Tem gente folgada que não se enxerga. E quando a gente oferece óculos de sol, acha que é armação - silas e suas siladas

Como a mãe da gente muito filosoficamente já dizia para nunca colocarmos porcarias na boca, acabamos por exercitar o dom de escrever que é o mesmo que colocar contentezas e barulhanças nos silêncios das bocas malditas da sobrevivência possível - silas e suas siladas

Escrever poesia não é pôr pingos nos is, é pôr exclamações nos solos de silêncio da amplidão vegetativa dos subcretinos - silas e suas siladas

Para o poeta natureba e vegetariano, escrever poesia é uma faca de dois legumes -  silas e suas siladas

Tem gente tão pouco parecida com ser humano, que ficamos na dúvida se estamos tendo uma alucinação, se há alguma esperança ainda, ou se a nova cerveja é que tem álcool demais e a fórmula não é desse mundo - silas e suas siladas.

O homem é o único animal que pensa e inventou a cerveja. Viu a chiqueza no que dá pensar? - silas e suas siladas

Sempre fiz as coisas correndo. Você nunca viu, pois parecia sempre estar tomando conta de uma pedra e a pedra tinha fugido - silas e suas siladas

Ontem choveu no meu passado em Itararé, e eu nem estava mais lá para ser a eterna criança que se escondeu na caverna da poesia - silas e suas siladas

Tem dias que é melhor nem existir. Nesses dias, escrevo poemas e descarrego minha metralhadora cheia de lágrimas em versos feitos de mágoas insalubres. - silas e suas siladas –

Tenho saudades das coisas que nunca fui, tenho medo das coisas que camuflo, tenho esperanças de entregar as armas sem usá-las, tenho certeza que morrer é só mudar de dimensão, mas estou num buraco e nem sei se é verdade ou mentira, e então, entre a parede e a poesia, não sei o que mais me clarifica, o que menos me vivifica, e o que é realidade e o que é neblina - silas e suas siladas

A poesia é a porta, a solidão é a parede - silas e suas siladas

Tem gente que tem tarja preta na alma e não sabe. Vive atribulado, buscando fugas irreais, íntimo amargurado, sem saber que a grande e verdadeira busca é fazer o carvão se tornar diamante, e existir dói para quem não se reconhece nas próprias pegadas, e nem enxerga os erros e sequelas de neuras adquiridas por não ter fé, e nem fazer arte como libertação, ou mesmo a bendita terapia do trabalho para evoluir, sair de si e adquirir conhecimento – Silas e suas siladas

Poeta não ri. Mostra os dentes. A ração da poesia engorda e marca. - silas e suas siladas

Nada me deixa mais solitário, do que muito silêncio por perto, ao derredor, no entorno. Por isso escrevo letras de músicas como se fossem poemas, ou vice-versos. Escrever para mim é pedido de socorro, não sei para quem, por que, para onde. Mas vou me livrando de mim, enquanto a poesia me faz companhia - silas e suas siladas

Quem não chora não se honra - Quem não chora não se arma - Quem não chora não ama. - Perdoar é divino - Chorar é vazar o sal amargo e obtuso do íntimo - silas e suas siladas

Ponho meia lua no anzol/E miro pro lado do sol/Para tentar içar eclipse – (Estrelamento) - silas e suas siladas

Não tive escolhas. Tive poemas. Hoje eu sei o que fazer disso. Mas como dói - silas e suas siladas

A poesia é a minha cabana. A existência invasiva não poderá me fazer me perder de mim. - silas e suas siladas

Quando tem muito idiota feliz por perto, eu fico pensando se realmente pensar e levar a vida a sério vale a pena para tentar sobreviver com as mãos limpas - silas e suas siladas

Segunda-feira é fogo, terça-feira é cinza, quarta-feira é chuva, quinta feira é lua nova, sexta-feira é cerveja, sábado é líquido e certo, domingo é ressaca das brabas, assim, existir é um semanário de contentezas, barulhanças e estados etílicos em parecenças de sobreviver e aprender que tudo é datado - silas e suas siladas

Eu tenho lactobassilas - silas e suas siladas

Escrever me tira um pesado lastro. Escrever poesia é deixar rastro. silas e suas siladas

Tudo é muito claro. Na morte - silas e suas siladas

Às vezes olho para certas pessoas e penso: Meu Deus, o que é que eu estou fazendo aqui embaixo? - silas e suas siladas

Ser poeta é a minha maior e melhor rebeldia - silas e suas siladas

Dias melhores virão. Quando morrermos. Dias melhores para os outros - silas e suas siladas

O futuro depende de "Nós": Núcleo de Otários Subordinados - silas e suas siladas

Escrever é terapêutico. Enfrentar a barra de viver é um pesadelo adquirido com neuras. Escrever nos livra de nós. Mas, ler, é um salve-se quem puder - silas e suas siladas

Faz escuro, mas eu respiro. Escrevo para vcs sentirem o clima. Perdoem, desculpem, relevem. Vai doer mais em vcs do que em mim - silas e suas siladas

Um poeta não precisa de muita coisa para sobreviver falsamente feliz na sua panaceia herdada ao nascer nessa dimensão errada. Basta ter uma biblioteca particular, um computador com controle remoto a partir de um chip na mente, e uma nave de lágrimas pronta para partir a qualquer momento para dentro de seu mundinho íntimo, triste, solitário, feito infinito particular – silas e suas siladas

Nada expressa tão bem a nossa solidão pessoal, íntima e refratária, do que os solos de silêncios expressos em nosso poetar alhures - silas e suas siladas

O duro sofrimento de existir, talvez só a arte possa curar - silas e suas siladas

A poesia nunca sabe para onde está sendo levada. Mas conhece e carrega a alma daquele que a está levando. silas e suas siladas

A poesia está repleta de céu. Tire os sapatos de seus ressentimentos, sente-se numa pedra de seu silêncio, e colha as pétalas de seu olhar purificado sobre todas as coisas. Viver é se entregar. Então, afastado numa dimensão paralela, você sentirá: e não haverá mais a dor de existir – silas e suas siladas

Eu me insurgi contra mim mesmo. Incompatibilidade de gênero, número e grau. Estou ficando fútil. Sempre fui de abraçar causas. Melhor morrer de cerveja do que de tédio. Voltarei aos poemas. A arte como libertação. Desse jeito, para me libertar de mim, terei que cortar os pulsos com poesia – silas e suas siladas

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Silas Corrêa Leite, in, DESVAIRADOS INUTENSILIOS, Editora Multifoco.

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