09/07/2009

DROPS NO CAFÉ
A poesia da linguagem
Por mais que intentemos falar sobre a poesia contemporânea, torna-se difícil elaborar uma crítica isenta de preconceitos.
Podemos errar ao tentar cotejar esse com outro poeta.
Mas o que se pode notar nesses tempos coevos é um tipo de poesia órfã da semiótica.
Ou seja: nem todos os poetas, evidentemente, mas muitos tentam trabalhar a desestruturação do verso e reverberar o significado esconso divorciado numa primeira leitura do seu significante.
E isso implica dizer que existe um tipo de esconde-esconde nessa poesia.
E é interessante e de uma certa utilidade também notar esse processo pelos seus lados semiótico e filosófico.
Entretanto quem perde um pouco, a meu ver, é a poesia.
A poesia tornou-se, hoje em dia, um tipo de linguagem.
E cabe aquela expressão: ´decifra-me ou te devoro.`
Nesse aspecto, acho salutar a sua construção.
Todavia a parte emocional e significativa perde no seu todo.
Um exemplo claro, a meu ver, é o tipo de poesia de Régis Bonvicino -- que só conheço pelos livros e de ouvir falar.
Eu tenho o seu livro CÉU- ECLIPSE e não gosto -- porém vejo um projeto de poesia.
É uma poesia de flagrantes, mas flagrantes que se homiziam numa linguagem cifrada e hermética -- e é nisso que , a meu ver, o poeta põe todas as suas fichas.
Há um outro poeta também, Francisco Alvim, que parece ter um projeto poético nessa linha que procurei descrever acima.
Francisco Alvim no livro de poemas Elefante, ó que grande contradição, tem poemas que são verdadeiras interjeições ou frases desatreladas de conversas cotidianas.
Se fôssemos ler esses poemas sem uma leitura de projeto, acharíamos tudo isso uma pequena fancaria.
Mas o que enobrece o livro e a sua proposta é a contradição e a coerência havidas.
Por isso hesitarmos em dizer que não gostamos desse tipo de poesia.
Elas, ambas as poesias, de Bonvicino e Alvim, poderiam nos impactar mais pela proposta do que pela poesia em si.
Seria, como diria Kuhn, uma mudança de paradigma?
Mas será que nós, humildes leitores, estaríamos, na verdade, preparados para essas mudanças (de) propostas?
Para isso seria mais justo, julgo, as suas poesias ou o futuro um dia nos dizer.
Wilson Luques Costa é jornalista

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