ULTRAPASSANDO O ODÔMETRO
Foi
quando acelerei de vez e disse para mim mesmo: “agora eu vou atrás, agora ela
me paga”. E quanto mais eu acelerava, menos translúcida ficava a sua direção.
Mas na minha obsessão canibalesca eu a perseguia. Eu percebia que ela tentava
se esquivar de todas as maneiras. Rente à curva, ela derrapou e quase que
soçobrou na frente de um obelisco. E eu acelerava como um louco. Sim, eu estava
ensandecido. Eu espumava pelos cantos da boca. Tive uma taquicardia e logo após
uma bradicardia que me deixaram em cera. Pus um chiclete na boca e comecei a
mastigar como um demente. Eu estava transtornado. E quanto mais eu acelerava,
mais eu enlouquecia. O odômetro indicava cento e sessenta e eu achava pouco,
muito pouco. Eu acelerava, mas a distância aumentava. Eu corria como um pateta.
Pensei em ir a pé. Resolvi gritar. Gritava o seu nome em vão. Desci e segui na
estrada a pé. Pus um outro chiclete na boca e comecei a mastigar como um
demente. E quanto mais eu andava, mais eu enlouquecia. Eu espumava pelos cantos
da boca. Foi quando eu disse para mim mesmo: “ agora ela me paga...agora ela me
paga”, mas a sua direção ficava cada vez menos translúcida. Ao longe uma placa
indicava: ´Cuidado na derrapagem: loucura...!
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