AS FALSAS MISSIVAS AMOROSAS

 

 

A ideia de memória é uma ideia de filtragem -- embora não saibamos como se dá, com efeito, essa ideia de filtragem.

Muitas vezes, nos assomam coisas não tão significativas assim nas nossas vidas.

Às vezes, é uma coisa mesmo corriqueira, que - aos olhos dos outros - seria mais um tipo de platitude ou truísmo.

Mas a ideia de significação fica mais a cargo do cérebro, que no momento detona a fagulha da lembrança.

E uma das lembranças que me vem agora é quando gostávamos de ser missivistas amorosos.

O nosso intuito era escrever cartas aos nossos colegas, fingindo ser aquelas meninas, que os nossos colegas amavam em seus amores platônicos.

Gostávamos de sentir a reação deles todos; digo deles, porque a recidiva se dava comigo também.

Éramos, portanto, naquelas escritas lúdicas, vítimas e algozes.

As falsas cartas de amor nos davam taquicardia ao perceber um possível amor correspondido, que na verdade era mais o amor pelo lúdico ou pelo simples fato de ‘simplesmente´ brincar de se corresponder.

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