Ensaios despretensiosos de ensaios
Literatura é questão de ter tesão ou não. E
quando se tem tesão, vai-se atrás. E eu, nesses últimos dias, tenho retomado o
processo persecutório pela literatura -- embora julgue, ao contrário de
Vila-Matas - que literatura vem morrendo sim. Vila-Matas, aliás escreve sobre
isso no seu livro O mal de Montano - que confesso que não li na íntegra
-- fiz como fazem esses resenhistas hodiernos: li as dez primeiras páginas e
depois fui saltando de páginas em páginas no intuito de encontrar uma pérola
que infelizmente não encontrei. Talvez tenha me fascinado mais pela capa do
livro. Sim, é isso! Fascinei-me menos pelo conteúdo, mais pelo continente. Por
analogia, por assim dizer, posso dizer o mesmo de Tonio Kröger, A
Invenção da Solidão que tento dar continuidade e de Perturbação de
Bernhard - que logo hoje lá pelas sete de la matina encetei pela quarta ou
quinta vez - e que só avancei, porque o português aqui da padoca - insistiu em
não preparar o pãozinho mais cedo - porque senão pararia também. O problema, a
meu ver, não obstante a exortação constante em seus prefácios - é que querem
ainda escrever grandes livros - digo grandes - no sentido volumoso - e é por
isso que na trigésima página - o autor começa a acoplar missivas, telegramas,
falas do vizinho, latidos do cachorro, miados do gato etc - aquilo que
poderíamos denominar de encher a grande linguiça -- e é isso que esses autores
de renomes e flipados vêm fazendo também sem mesura nenhuma. Esses autores mais
nos parecem aquelas grandiosíssimas mulheres (peruas) que se pavoneiam todas,
para nos deixarem -- depois- sozinhos-- mais frios, no tálamo do sexo, do que
duas pacientes de Freud com as suas velhas histerias. Ao contrário de
Vila-Matas que pretende ainda restituir vida à vetusta literatura; eu, cá
comigo, já vou me conformando com o seu mais recente e último necrológio. E
tenho dito!
O QUE SÃO UMA TORÇÃO NO TORNOZELO E UM GOL
NO CANTO DIREITO DO GOLEIRO
Até
1996, aos 36 anos, eu posso dizer que não escrevi nada; escrevia sim alguns
poemas mais para desabafar, poderíamos dizer que poemas por desajuste interno
-- no escopo de destituir-me de uma sociedade na qual eu não cabia com as
minhas veleidades. Mas as minhas veleidades nunca foram escrever, mas sim mudar
o mundo. Tudo começou, de uma certa forma, quando vim a torcer o meu tornozelo
num jogo de futebol. Ou seja: por conta de uma jogada e um escorregão tive que
ficar de molho lendo Borges, Beckett, Joyce, Trevisan etc.; até que cismei de
perpetrar um tipo de conto e depois outro e outro e outro. Mas tudo sem uma
maior intenção. Eram cenas que me surgiam como fotogramas e eu distorcia um
tipo de realidade. Mas deixava tudo no disquete. E vou confessar a vocês: nunca
quis ser escritor, poeta, filósofo ou coisas semelhantes. Eu queria mesmo fugir
do mundo que me parecia bastante hostil. A escrita era mais um desabafo. Até
que chegou um momento em que me exortaram à publicação de meus textos, e a
partir daí fui picado por uma certa vaidade ingênua -- julgando que isso me
elevaria a um posto não sei o que mais... Ou seja: perdi-me num narcisismo
tosco. Mas me curei a tempo. O fato é que já é tarde, porque já publiquei um
livro com 34 contos, e um livro meio desajambrado com dois textos totalmente
díspares do primeiro. Estive na bienal, fiquei sócio da UBE, saí com textos
inéditos na Coyote, fui fazer mestrado em filosofia na PUC-SP, fiz pequenas
resenhas no Jornal, hoje Revista Escritor, saí na Separata, organizei oficinas
literárias -- tudo por conta, é óbvio, e pela benevolência de alguns colegas -,
me meti também, em poucos anos de estudos sérios em filosofia, a questionar
certezas inabaláveis -- o que me propiciou panegíricos de Olavo de Carvalho,
Fernando Jorge, que me chamou de gênio -- helás. No frigir dos
ovos, posso afirmar que atingi mais do que esperei, porque nunca visei a nada.
É claro que até hoje sou um cara totalmente desconhecido. E não pretendo que o
contrário aconteça um dia. Mas para quem teve muitas dificuldades como eu tive,
eu julgo isso muito mais que uma simples vitória. Deixei por inacabados vários
cursos -- alegrei-me e frustrei-me com a literatura e com a filosofia --
sobretudo com os seus personagens reais. Mas conquistei vários amigos. O certo
é que as coisas vão acontecendo. Não me julgo melhor que ninguém, mas eu acho
que nesse pouco tempo eu tenho provocado bastante. O fato é que os meus textos
em sua grande maioria e meus pensamentos estão publicados aqui, ou rascunhados
em algumas folhas soltas por aí; e mais fato ainda é que não devemos forçar a
verdade -- o fato é que, se tiverem valor, ficarão -- se não, não adianta nem
sequer esses prêmios de araque que rondam por aí.
O
livro, além de nos proporcionar, nem todos, um prazer estético no ato da
leitura -- ou mesmo nos proporcionar informações sobre o mundo, dá-nos também
um ato não menos prazeroso ao encontrá-lo perdido numa livraria ou num
alpharrábio qualquer. O deleite inicia-se em meio às traças e estende-se até a
penumbra de nossos quartos de preferência totalmente forrados de cortiças.
Tento
reler os romances novamente. Tenho lido concomitantemente Neve e a Invenção da
Solidão. Já li Istambul quase que completo. Mas os livros de Pamuk parecem-me
livros que podemos ler de uma forma aleatória. Gosto talvez dos livros menos
pelas histórias e mais pelas capas que são editadas pela própria editora. O que
me leva aos livros talvez seja também a leveza das coisas simples. Grande
literatura é simplicidade. É na simplicidade que nós construiremos as nossas
grandes obras ou as nossas próprias vidas -- no que, em síntese, darão nas mesmas.
FUTEBOL E O SPLEEN
Sempre e sempre gostei de futebol. E continuo gostando.
Ao contrário do meu amigo Nicola, também pudera, vejam este nome: não me venha
falar que seria corintiano fanático - posto que o corintiano é esse que vos
fala - e ele ´alvi-lemon´. Mas o futebol tem perdido o elã. Li a matéria
do Ricardo Kotscho sobre a seleção. E a minha sensação foi a mesma, e dormi lá
pela metade do segundo tempo. Não consigo assistir também àqueles campeonatos
europeus; no máximo, no domingo, esperando o macarrão da mama. Por outro lado,
já gosto de ver e ouvir as ladainhas futebolísticas da televisão. Houve uma
inversão de valores: pois o futebol ficou menos interessante que os seus comentários.
Domingo mesmo, dormi no jogo sansão, depois de ter batido o meu fute até as
14h30 -- mas fiquei atentíssimo à programação local -- ouvindo os comentários
ulteriores. Mesmo o Corinthians me cansa às vezes; uma porque o time é um time
razoável -- mas torcerei ferranhamente amanhã -- evidentemente que muito bem
paramentado sob o meu edredon surrealista. Mas isso não tem acontecido só com o
futebol, é com a arte em geral. Existe um certo spleen baudelaireano -- será
que grafei corretamente? -- e esse spleen, não sei se é -- como diz o Ricardo
em sua crônica -- menos fruto da desídia do que da idade -- mas é que as coisas
não nos vão mais empolgando. Já citei aqui a minha não mais vigilância com os
livros - que pelo que me parece -- já não têm mais aquela força também. Só sei
que há algo de errado com a Dinamarca. E espero que essa Dinamarca não se chame
EU.
Quanto mais o tempo passa, mais nos repetimos e repetimos
mais as nossas volições: isso ocorre com livros, passeios, pessoas, músicas,
autores etc. Pois nesses dias recomecei a reler Sete Noites de Borges e De
Senectute de Bobbio. Bobbio escreve sobre a velhice e a sua lentidão. São,
enfim, dois clássicos de cabeceira.
Monday, November
06, 2006
Vale a pena
não ler de novo
31/07/2006 10:12
Estava eu sentado lá na mesa do Caiubi, e a galera lendo poemas. E no botche a grande algaravia. Pessoas prestam atenção, mas dispersam. Querem bater papo, trocar idéias, contar as novidades, dar uma tragada no marlboro e tentar concentrar a sinapse esquerda ao mesmo tempo. E isso é comigo também. Há sempre uma discussão a respeito da poesia, essa coisa arcana, in-definível. De repente, uma colega disse-me: Wilson, poesia não é para bares. Já ouvi isso várias vezes. Já concordei com essa idéia, mas como a única certeza que tenho é a dúvida, coloquei em epoqué... Aquilo que chamamos de poesia vem se transubstanciando no tempo. Na Paulista, debaixo daquela garoa, eu ia tentando explicar para a Raquel as diferenças marcantes entre poesia oral e escrita. Poesia estampada num livro bem diagramado, e num livro lançado ao vento, na pressa de um desejo. O poema no sulfite. O poema da gaveta. O poema dentro de um rol, ao lado de Bandeira ou Gullar. É isso, a poesia é uma malabarista desossada, que se in-adapta a algum corpus existente. Mas a poesia seria isso mesmo: esse desprezo. Essa coisa minimalista. Sem demanda. Uma coisa tosca. Sem praticidade. O inutensílio inútil - que preterimos nessa vida mundana. Uma leitura oblíqua daquilo que o poeta quer transmitir. A poesia é a desservilidade -- porquanto quando não serve, também não é serva-serviçal. O impacto se dá só quando estão todos no fundo do poço:´criador-leitor-criatura´. E é aí que se definirá a poesia... Será? É no regaço do abismo que se contemplará a poesia. Nos céus só poderemos contemplar a luminosidade tosca das estrelas. É no fundo do poço (no fosso) é que vamos econtrar a pele e o osso do poeta.
31/07/2006 10:12
Estava eu sentado lá na mesa do Caiubi, e a galera lendo poemas. E no botche a grande algaravia. Pessoas prestam atenção, mas dispersam. Querem bater papo, trocar idéias, contar as novidades, dar uma tragada no marlboro e tentar concentrar a sinapse esquerda ao mesmo tempo. E isso é comigo também. Há sempre uma discussão a respeito da poesia, essa coisa arcana, in-definível. De repente, uma colega disse-me: Wilson, poesia não é para bares. Já ouvi isso várias vezes. Já concordei com essa idéia, mas como a única certeza que tenho é a dúvida, coloquei em epoqué... Aquilo que chamamos de poesia vem se transubstanciando no tempo. Na Paulista, debaixo daquela garoa, eu ia tentando explicar para a Raquel as diferenças marcantes entre poesia oral e escrita. Poesia estampada num livro bem diagramado, e num livro lançado ao vento, na pressa de um desejo. O poema no sulfite. O poema da gaveta. O poema dentro de um rol, ao lado de Bandeira ou Gullar. É isso, a poesia é uma malabarista desossada, que se in-adapta a algum corpus existente. Mas a poesia seria isso mesmo: esse desprezo. Essa coisa minimalista. Sem demanda. Uma coisa tosca. Sem praticidade. O inutensílio inútil - que preterimos nessa vida mundana. Uma leitura oblíqua daquilo que o poeta quer transmitir. A poesia é a desservilidade -- porquanto quando não serve, também não é serva-serviçal. O impacto se dá só quando estão todos no fundo do poço:´criador-leitor-criatura´. E é aí que se definirá a poesia... Será? É no regaço do abismo que se contemplará a poesia. Nos céus só poderemos contemplar a luminosidade tosca das estrelas. É no fundo do poço (no fosso) é que vamos econtrar a pele e o osso do poeta.
Na minha parca biblioteca eu tenho alguns livros de alguns poetas contemporâneos. E, vez e quando, eu os leio; não os deixo só para as traças. E um poeta que muito me entusiasma é Waly Salomão. E ontem eu estive lendo o Armarinho de Miudezas
que é um mix de discurso poético com um não sei o quê de
crítica rememorativa à base de um fluxo de consciência que vai citando tudo de
tudo - uma cabeça ciclópica -- porque demonstra conhecimento não piegas -- e o
saldo não poderia ser melhor do que uma grande poesia oral calcada nas palavras
ali impressas naquele opúsculo. Waly é poeta da oralidade. Apesar da
ascendência síria e da baianidade inquestionável, Waly é um poeta heleno ou um
trovador medieval com as suas farpas na glotta bem afiada. É, com efeito, um
dos meus poetas de cabeceira. Não! Não!... Não dá para lhe negar aqueles
apodos!
Wednesday, September 06, 2006
Hoje, de manhã, no
mosteiro de São Bento, assisti a uma palestra do professor emérito da USP
Arthur Giannotti. Falou sobre o segundo Wittgenstein. Num primeiro momento,
pensei que estaria o auditório superlotado. Ledo engano e bom engano. Mais os
alunos e os professores, bem como alguns beneditinos. Fui um dos primeiros a
chegar. Sentei lá e fiquei esperando a fala. Aliás a primeira a que assisto do
professor. E gostei. É óbvio que numa palestra, você não pode estar
interferindo. Então você vai ouvindo toda a amarração. Passa pela lógica, mas
com o pouco cabedal que me resta deu para acompanhar. Algumas coisas achei meio
atiradas ao léu. Mas achei que é mais para puxar o fio da meada. Se eu tivesse
uma intmidade de boteco com o senhor e professor Giannotti, eu iria lhe colocar
alguns parênteses. Sobretudo quando fez aquilo que ele chama e o Witt também de
Bildung ou representação. Faz um paralelo com uma coisa nossa cotidiana do
metrô, com as suas estações. Mas como foi oral, perdi-me e perdeu-se também.
Mas julguei mais uma ponte desconexa. Mas no fim abriu para alguns
questionamentos. Mas antes, havia falado da linguagem como jogo. Das regras. E
foi aí que saquei uma simples pergunta, que no final lhe coloquei. Se todo jogo
tem regras. E se bem entendi as regras de seu jogo ali, eu colocava a seguinte
questão: Senhor Giannotti, se o universo é um jogo, e se jogamos com o
universo, não seria possível nesse caso estabelecermos as regras do jogo, posto
que não fomos nós que criamos esse jogo. Mais: se existe um jogo, e se jogo só
é jogo se tem regras, quem nos daria as diretrizes e as mesmas regras desse
jogo? Se existe um Deus dono desse jogo, então haveria que haver uma epifania
desse Deus. Foi mais ou menos assim... Aliás, é muito muito mais complexa...Não
foi bem assim também, foi mais sumarizada... Depois vim elucubrando mais no
metrô e um garoto bisbilhotando as minhas anotações... Outra coisa: será que
Deus quer que conheçamos as regras desse jogo? Mais: isso não colocaria a
ciência numa impossiblidade como ciência ou numa outra impossiblidade ou
contradição de métodos? Por quê? Porque se a ciência não conhecer as regras do
jogo, o jogo não poderá ser jogado pela ciência. Porque, salta no escuro,
esquece o seu método, para ir para o aleatório encontrar as regras arcanas do
cosmos, como um saltimbanco perdido. E mais e mais... Giannotti respondeu-me
muito educadamente sobre as várias linguagens do cosmos. Agradeci. Mas vim com
muitos questionamentos acerca... Alías, quando iniciei a minha pergunta,
falei-lhe que tinha uma dúvida comigo. E ele perguntou-me: só uma? E não é que
ele estava correto? Claro que com as minhas quantidades de dúvidas... Será que
Deus joga mesmo dados com o universo, e nós não fomos convidados? E sobre as
várias linguagens... Poderiam ser um dia unificadas? Evidentemente que não falo
de esperanto; melhor, falo de um esperanto cósmico, divino... E tenho dito...
Eu sempre fui meio avesso à literatura chamada infantil.
E a razão é simples: não fui criado, ao contrário da maioria de escritores e
poetas, na ambiência de Monteiro Lobato etc. Aliás, nunca li Monteiro Lobato.
Nunca assisti ao Sítio do Picapau Amarelo. Eu, como já relatei aqui, encetei o
gosto pela leitura lá pelos vinte anos -- mais notadamente quando entrei para o
curso de jornalismo. Na escola, sempre foi aquela coisa de pular as páginas de
Gil Vicente, Eça de Queiroz, MA, e tantos outros que eu não conseguia ler. E é
incrível como nunca me predispus a ler essas estórias infantis. Uma vez escrevi
nesse blog: ´preciso me tornar uma criança para começar a ler Monteiro Lobato`.
E eu acho que vem chegando o momento. E a razão é simples. A Raquel, por conta de
atividades do budismo de Nitiren Daishonin, participou de uma olimpíada de
leitura para jovens e crianças nesse último final de semana. E eu fui convidado
para participar como jurado. Foi nesse último domingo. E por conta disso, fui
ter com os livros, mesmo que rapidamente. Ou seja: fui ler o Pequeno Príncipe;
li no sábado para os meus sobrinhos: Marcelo, martelo... Caloca e outros... E o
fato é que me encantei com O Pequeno Príncipe. Li num formato de mão, que é
sensacional. Só sei que na minha próxima garimpagem, haverei de trazer a
tiracolo uma mancheia de livros infantis, que na verdade são muito mais
instigantes que o seu próprio Nietzsche. Deveras, é agora perto dos cinquenta
que volvi a ser criança. Não, senhores adultos...! Por favor, não me salvem!
Eu já tive a oportunidade de escrever aqui sobre os
primeiros saraus de fim de milênio que se reverberaram e que até tomaram um ar
profi$$ional. Mas cada um cada um. Walter Benjamin e Adorno já cansaram de
falar da Indústria Cultural. E tudo é indústria mesmo. E eu também não tenho
antipatia nenhuma por isso. Relembro isso, para lembrar dos saraus bem legais
lá na Vergueiro, aos quais fui levado pelo meu supercolega Anselmo. Eram os
saraus do Perissé. O Perissé hoje é mestre, doutor, dá palestra pra lá e pra
cá, e pelo que sei é professor universitário. E espero que continue sendo
aquele camarada supersimpático que eu encontrava por lá. Mas lembro do Perissé
para falar de uma revista que ele iria publicar, mas que até o momento não
vingou -- não sei por quais motivos. Só sei que nesse mês ela faz dois anos. E
o incrível é que só tem um poema ali publicado, e o poema é desse que vos fala.
Mas para mim não importa. O importante é que é mais um espaço de literatura que
está por aí. Eu gostaria muito que o Perissé desse seguimento com a Revista.
Talvez o faça ainda em 2009. Não sei. Mas eu daqui da periferia, só tenho a
agradecer a sua sempre gentileza. Valeu mesmo Gabriel! O guardião de nossa
futura poesia. http://www.perisse.com.br/Revista-ambito-poesia-1.html
ULISSES
Ontem, eu dei uma folheada no Ulisses de Joyce. A
tradução é do Houaiss. Para falar a verdade, o livro é chato demais. Eu comprei
o livro em 1990. O livro está todo grifado, até a parte que tentei seguir.
Lembro-me que tentei ler aleatoriamente para poder compreendê-lo. Já li
inúmeros ensaios sobre o Ulisses de Joyce: que é dividido como os nossos órgãos
do corpo humano e tantas outras esdrúxulas teorias. Pasmem! Já tentei ler até
em voz alta os seus trechos no banheiro. Eu, particularmente, não pretendo
perder o meu tempo lendo Ulisses de Joyce. Uma porque o livro foi feito para
não ser lido. Ele é, na verdade, uma ruptura com os grandes romances. Agora, o
que mais me espanta é ouvir as pessoas dizerem que leram o livro de cabo a
rabo, e que, ainda por cima, conseguiram compreendê-lo. E aí me dá vontade de
perguntar se eles entederam, de fato, as frases em grego transliteradas num
português bem chinfrim! Ah, vai!!! me engana que eu gosto!!!
BALZAC
Hoje, eu estive relendo o prefácio de Paulo Rónai (como
se escrevia bem nos tempos de antanho) da Comédia Humana, volume 1 - Cenas da
Vida Privada -- e no capítulo sobre Balzac na escola, faz-nos lembrar muitos
casos análogos aqui no Brasil, quando não se presta atenção a verdadeiros
talentos homiziados pela mediocridade. Balzac, com efeito, não gostava de ser
notário, escrevente, e, como diz o Rónai, sim escritor. E deu no que deu. Um
gênio. Morto aos 51 anos. Agora imaginem se tivesse vivido 100.
HAJA ÁCAROS
Estou com um montão de livros lá ao lado da cama: vai de
Marco Aurélio (bilíngue)
que arranho com muita dificuldade. Não obstante um
imperador romano, Marco Aurélio escreveu as suas Meditações em grego. É um
livro da Iluminuras, mas como não consulto o dicionário, tenho um pouco de
dificuldade em cotejar a tradução com o original -- mas noto que a tradução
foge à severidade do ipsis litteris enveredando-se ao melhor entendimento. Falo
isso e cito como exemplo a tradução de oí iatroí que está traduzido como
cirurgião e sidería, que foi traduzido como apetrechos. Mas voltando às minhas
leituras concomitantes, ontem reli No caminho de Swan, e Proust continua muito
interessante com suas descrições que beiram o imagético e a filigrana --
interrompi na descrição de Swan filho, que já não ostenta o efeito dinastia do
pai; e a mama quando vai dormir o filho, embora já desgastado pela crítica é o
sumo do sumo. Quem como eu teve um afeto de mama, sabe do que estou dizendo. Li
capítulos de Síndrome da Violência de Hosmany Ramos e outros tantos. Esse, com
efeito, é o meu estilo de leitura. Por isso, não conseguiria responder a essa
pergunta piegas: o que o senhor está lendo no momento? Isso é para quem vê na
leitura mais um deleite, um passatempo, do que a própria transcendência.
06/11/2008
Tenho lido, como sempre, vários livros ao mesmo tempo. Nem todos eu termino. Por exemplo, estou tentando reler Céline que é muito cultuado -- aliás gosto dessas cultuações, mas, a meu ver, Viagem ao fim da Noite é um livro normal. Estou lendo vagarosamente, mas não me empolga na mesma estatura de seu autor. Reli, ontem, também, trechos da biografia de Einstein. O que eu acho interessante nas biografias dos chamados gênios é o eufemismo que se estabelece quanto a uma pedra no caminho de sua trajetória -- sobretudo no que concerne aos seus anos de estudos. Sendo inversamente proporcional quando se trata de figuras não tão singulares. E isso percebemos em Machado, em Einstein e tantos outros. Com efeito, Einstein não fora reprovado em matemática, aliás era muito bom nessa disciplina -- mas teve problemas com o estilo prussiano das escolas alemãs -- e não se sabe com certeza se saiu ou pediram para sair com ele -- só sei que vai para uma escola em Aarau e sem muitos detalhes e ingressa na politécnica. Sabemos que teve dificuldade com latim e grego, pois não era o seu forte. Mas o que digo é que tentam arcanizar um lado comum de fracasso, como se todos um dia não fracassamos na vida. É o caso de Drummond com a sua formação em farmácia que todos tentam passar muito celeremente -- ou mesmo Machado. Mas se somos nós: reprovou aqui e ali, não entrou em tal e tal -- ou cursou naquela chimbica ali... ó santa hipocrisia!
Tenho lido, como sempre, vários livros ao mesmo tempo. Nem todos eu termino. Por exemplo, estou tentando reler Céline que é muito cultuado -- aliás gosto dessas cultuações, mas, a meu ver, Viagem ao fim da Noite é um livro normal. Estou lendo vagarosamente, mas não me empolga na mesma estatura de seu autor. Reli, ontem, também, trechos da biografia de Einstein. O que eu acho interessante nas biografias dos chamados gênios é o eufemismo que se estabelece quanto a uma pedra no caminho de sua trajetória -- sobretudo no que concerne aos seus anos de estudos. Sendo inversamente proporcional quando se trata de figuras não tão singulares. E isso percebemos em Machado, em Einstein e tantos outros. Com efeito, Einstein não fora reprovado em matemática, aliás era muito bom nessa disciplina -- mas teve problemas com o estilo prussiano das escolas alemãs -- e não se sabe com certeza se saiu ou pediram para sair com ele -- só sei que vai para uma escola em Aarau e sem muitos detalhes e ingressa na politécnica. Sabemos que teve dificuldade com latim e grego, pois não era o seu forte. Mas o que digo é que tentam arcanizar um lado comum de fracasso, como se todos um dia não fracassamos na vida. É o caso de Drummond com a sua formação em farmácia que todos tentam passar muito celeremente -- ou mesmo Machado. Mas se somos nós: reprovou aqui e ali, não entrou em tal e tal -- ou cursou naquela chimbica ali... ó santa hipocrisia!
Ontem estive na Pinacoteca com os alunos. Faz tempo que
eu não vou a museus e quejandos. A cada dia, tenho ficado mais em casa. À
medida que o tempo vai passando, vamos selecionando os nossos livros, os nossos
passeios, as nossas amizades etc. Vimos, praticamente, instalações.
Supreendeu-me, também, a inteligência dos alunos nas reflexões que tiveram com
o educador. Eu não falei nada. Fiquei quieto o tempo todo. Gostei muito de uma
instalação com canudinhos e também um quadro do Manu Mabe. Hoje, na sala de
aula, fiz algumas considerações com os alunos no que concerne às instalações.
Tomei como parâmetro as quatro causas aristotélicas. Enfoquei que as
instalações hodiernas embasam-se, provavelmente, nas quatro causas
aristotélicas, com um senão: o artista apõe a possibilidade de causas eficiente
e final serem um pouco diferentes do que defendia o estagirita -- ou seja; há
uma extrema valorização do sujeito cognoscente -- sendo portanto plurais as
causas final e eficiente.
Adquiri hoje a biografia de Gödel: Incompletude. Logo
mais estarei folheando a biografia desse lógico desconhecido praticamente na
vida e muito mais no Brasil. Eu, há uns três anos, encaminhei um e-mail ao Olavo de Carvalho, lhe colocando um questionamento
acerca do que penso sobre o PZ em relação ao pensamento sobre a
incompletude de Gödel. O Olavo de Carvalho respondeu-me muito
laconicamente. Certa vez no mosteiro de São Bento, mais precisamente no último dia
de uma aula de lógica, citei alguma coisa sobre o PZ --, e alguns colegas,
sobretudo lógicos e matemáticos, tentaram me refutar sem nenhuma consistência,
apenas no intuito de não aceitar aquilo que eu propunha. Só sei que o nosso
professor falou-me assim: ´de onde você vem, menino?´ É incrível como me chamam
ainda de menino. E eu respondi que tive uma passagem na PUC-SP. E ele falou que
não se lembrava de mim. E eu lhe disse que não havia feito a sua disciplina.
Não sei, só sei que ele começou a relembrar de Pitágoras, citou outros tantos,
e principalamente Gödel, dizendo que esse era totalmente ignorado em vida.
Depois foi falando dos boicotes, criticando alguns ranços universitários etc.
Como se diz: defendeu-me de uma certa forma por tabela, citando alguns
personagens boicotados pela história e pelo seu tempo. Confesso que eu, naquele
momento, até que me senti um pouco aliviado. Os seus olhos esgazeados não mo
negavam o seu espanto.
VALE A PENA NÃO LER DE NOVO
Nietzsche - 161 anos
Num mundo de especialistas, já digo de cara que não sou
especialista
em Nietzsche. Nem de mim mesmo, dirá dos outros. Mas
gostaria de fazer
uma pequena alusão à figura do pai do Zaratustra. É
incrivel que nesse
dia 15 de outubro, logo pela manhã, quando acordo, já me
recordo desta
data. Nietzsche era libra. Mas nos seus escritos nada era
equilibrado.
Ele ia fundo do abismo ao éter e do éter ao abismo.
Muitas interpretações
já foram feitas à figura de Nietzsche. Nietzsche seria,
hoje, um tipo de
popstar acadêmico. E por que isso? Porque a sua biografia
é muito interessante.
Aos 44 anos já delirava. Aliás já delirava muito antes.
Nietzsche na minha
opinião era um pusilânime, por isso criou o übermensch.
Para se defender e
atacar. Muito se fala, quando se coloca Nietzsche como
baldrame filosófico,
sobre o ataque de Nietzsche ao ressentimento. Mas
convenhamos: Nietzsche
era um ressentido. E não raro se vingava. E quem diz que
se vingar é uma
fraqueza? É só ler Nietzsche com atenção. E ler a
história das religiões e do mundo,
que não são as minhas especialidades auch. O problema não
era nem isso.
Nietzsche não suportaria ninguém à sua frente. Um caso
mais de narcisismo,
do que de vingança. Brigou com Salomé, atacou Wagner, o
Cristianismo,
a Alemanha, Sócrates, todos que no fundo ele admirava.
Ele já diz isso
em um de seus escritos: 'eu só ataco aquilo que venero'.
Certa vez,
numa aula de filosofia, aludi ao suposto ressentimento de
Nietzsche,
e um professor arguto de chofre argumentou: 'pelo que eu
saiba,
Nietzsche dizia nunca ser um ressentido. E eu
contra-argumentei
que Nietzsche seria, talvez, um cristão fervoroso, mas
desiludido
com o cristianismo de sua época, que vinha declinando em
seus
valores. Um problema axiológico e não de pisté. Por que
Nietzsche escreveu o anticristo? Lembrem-se que a palavra
anti em grego é no lugar de. Dizem as más línguas que
Nietzsche dizia ser o Jesus Cristo... Ato falho? Muita
coisa
se escreve e se escreveu para dizer dos 'super-homens'.
Como se os 'super-homens' tivessem o seu próprio cogito
e dali fundamentassem tudo. Isso é só para quem aceita
tudo de todos. Depois que você fundamenta sofisticamente,
tudo cabe. Para variar, de todos os autores de que gosto,
desgosto (de quase todos) numa proporção inversa de seus
supostos epígonos. Como dizia Nietzsche no Zaratustra:
'Fuja, meu amigo, para a sua solidão, para além onde
sopre
vento rijo e forte. Não é destino seu ser 'enxota-moscas'.
E é o que faço nesse nublado 15 de de outubro...
UMA TEORIA POPPERIANA
Andei conversando com o colega professor de física Daniel
- que é bom pra caramba, como já venho dizendo, em inúmeros assuntos; vai do
cinema à literatura; da literatura à física etc - sobre a minha dúvida sobre o
decaimento betha. E eu como não sou físico, fui lhe fazer algumas perguntas, e
a minha pergunta, pelo jeito, não é tão ingênua assim. E ele me explicou sobre
os quarks: ups e downs. Mas a nossa conversa é muito célere em face de nossos
compromissos com a escola onde leciono. Mas eu penso que as explicações sobre
os quarks acabam criando mais embaraços para a física, como eu lhe perguntei
sobre um caso, que depois poderei relatar. E eu já havia criado uma teoria, que
- a meu ver - explica melhor o decaimento betha, sem entrar em aporias tão
radicais assim. É óbvio que se trata de uma tese à la Popper, qual seja: no
núcleo de um átomo existem prótons e nêutrons;e eu advogo que o nêutron seria
um equilíbrio nuclear entre prótons e elétrons, e nessa minha teoria, contemplo
que há elétrons no núcleo. Portanto, o nêutron seria um equilíbrio endógeno
nuclear, e os prótons nucleares fariam o equilíbrio exógeno com os elétrons das
sete camadas.
NA CONTRAMÃO DE EINSTEIN
Eu defendo a idéia de que, ao contrário de Einstein, o
tempo cede quanto mais o ´objeto´, e para o caso pode ser o homem ou qualquer
outro objeto, se movimenta. E movimento pode ser interpretado como parado
também. Porque no mundo pós-moderno é o tempo pós-moderno que cede, podendo
haver a concomitância de ambos. Eu já escrevi isso nos blogs, já encaminhei
e-mails para algumas pessoas, no fito de guardar essas minhas idéias. Não sei o
que pode ocorrer no ´mundo subatômico´, mas no mundo que denominei de mundo
pós-moderno, diferencio tempo universal (u), de tempo pós-moderno (h). Ou seja,
o tempo universal seria uma paralela constante ao espaço (s), o tempo em função
do objeto seria o cateto oposto, e o cateto adjacente seria o espaço (s), no
qual o objeto se deslocaria ou não (necessariamente). E formando esse gráfico -
tendo a hipotenusa como demarcadora do tempo - demonstro como o tempo cede na
medida que se avança no espaço (s) -- e que se fosse possível o contrário, o tempo
também deixaria de ceder.
CARTA A UM JOVEM CORDELISTA
Quase todos já conhecem, ao menos os que lidam com literatura, a
famigerada Carta a um jovem poeta de Rilke. E não é à toa que esse
texto veio à baila e sobrevive até hoje, e possivelmente
sobreviverá até quando houver poetas e poesia. Sinceramente, não
sei se sou poeta, bom ou mau, não importa, mas também já tive as
minhas dúvidas metafísicas. Isso é natural e acontece. Surge a
dúvida de nossa capacidade. Será que escrevo bem? Será que sou um
bom contista? Romancista? Foi sempre assim e será. Mas o que me
causa estranheza é que já venho repassando esse texto a colegas
que percebo que têm um talento escondido. Falo atualmente, e mais
precisamente, de um colega, jovem, se muito trinta anos, que a
princípio iniciou-se com a música e agora quer enveredar para a
poesia. Apesar de paulistano, gosta das cantorias de cordéis, e o
faz com uma precisão sem limites. Tudo muito bem metrificado, em
redondilhas maiores etc... Mas paira ainda sobre a sua cabeça a
dúvida: será que sou poeta? Eu, a meu modo, julgo que sim: um
poeta da velha tradição. Dos cordelistas. Mas o que não consigo
colocar-lhe na cabeça é que falta algo... Algo de uma cultura dos
livros ou da vida, não sei...Mas falta... Mas não poderíamos negar-
lhe o fazer poético... Pediu-me para escrever algo...
Evidentemente que não lhe mostrarei esse pequeno texto... Mas
julgo que falta algo sob o sol... Às vezes vem-me aquela frase de
novo de Nietzsche:' só acredito nas pessoas que escrevem com o
próprio sangue' -(ou com o próprio veneno). E Nietzsche escreveu,
atacou, desdenhou, enfureceu... Nietzsche foi o vampiro de si
mesmo, bebeu todo o seu sangue e nem deixou um cálice, sequer, um
pouco, para o seu mestre Dioniso... Nietzsche, certamente, o
poeta, jamais necessitaria de uma simples carta de Rilke...
Além de sorver todo o seu sangue, ainda envenenou toda uma geração
que lhe seguiria...
Quase todos já conhecem, ao menos os que lidam com literatura, a
famigerada Carta a um jovem poeta de Rilke. E não é à toa que esse
texto veio à baila e sobrevive até hoje, e possivelmente
sobreviverá até quando houver poetas e poesia. Sinceramente, não
sei se sou poeta, bom ou mau, não importa, mas também já tive as
minhas dúvidas metafísicas. Isso é natural e acontece. Surge a
dúvida de nossa capacidade. Será que escrevo bem? Será que sou um
bom contista? Romancista? Foi sempre assim e será. Mas o que me
causa estranheza é que já venho repassando esse texto a colegas
que percebo que têm um talento escondido. Falo atualmente, e mais
precisamente, de um colega, jovem, se muito trinta anos, que a
princípio iniciou-se com a música e agora quer enveredar para a
poesia. Apesar de paulistano, gosta das cantorias de cordéis, e o
faz com uma precisão sem limites. Tudo muito bem metrificado, em
redondilhas maiores etc... Mas paira ainda sobre a sua cabeça a
dúvida: será que sou poeta? Eu, a meu modo, julgo que sim: um
poeta da velha tradição. Dos cordelistas. Mas o que não consigo
colocar-lhe na cabeça é que falta algo... Algo de uma cultura dos
livros ou da vida, não sei...Mas falta... Mas não poderíamos negar-
lhe o fazer poético... Pediu-me para escrever algo...
Evidentemente que não lhe mostrarei esse pequeno texto... Mas
julgo que falta algo sob o sol... Às vezes vem-me aquela frase de
novo de Nietzsche:' só acredito nas pessoas que escrevem com o
próprio sangue' -(ou com o próprio veneno). E Nietzsche escreveu,
atacou, desdenhou, enfureceu... Nietzsche foi o vampiro de si
mesmo, bebeu todo o seu sangue e nem deixou um cálice, sequer, um
pouco, para o seu mestre Dioniso... Nietzsche, certamente, o
poeta, jamais necessitaria de uma simples carta de Rilke...
Além de sorver todo o seu sangue, ainda envenenou toda uma geração
que lhe seguiria...
A ECONOMIA, O NOSSO FUTEBOL CAPENGA E A NOVA
REENGENHARIA
Uma machadada e muito mais que três minhocas
Tenho preguiça e incompetência para comentar futebol e
economia. Mas gosto de ambos. Mas o futebol ficou feio, burocrático, e o craque
perdeu o seu espaço para o lutador de Jiu Jitsu. Dificilmente veremos um
Rivelino, Maradona, ou a lentidão de um bailarino como Ademir da Guia. Mas o
futebol era mais romântico, por conta do rádio, que nos criava metáforas
geniais além das jogadas. Quantas vezes eu imaginei o Riva dando dez fintas no
seu adversário, sendo que apenas havia feito um lançamento de no máximo três
metros. Tudo por culpa dos magníficos Fiori e Osmar Santos. Já no que tange a
economia, confesso que tenho saltado os cadernos de seus respectivos jornais.
Mas nesses dias, pus-me a lê-los com maior precisão. A meu ver, a idéia de
catástofre só ocorre para uma das partes, mas não para o capitalismo. Exemplo:
a empresa X pode muito bem sim fechar as suas portas como essas securitizadoras
( é isso?) -- mas se o governo não quiser, irá protelar até quando também
quiser a sua bancarrota. De modo que uma coisa é uma crise de empresas do
sistema capitalista -- já outra coisa é a crise do capitalismo. Uma porque se
entendermos bem a idéia de sistema, não daria para pensar alguém perder sem o
outro ganhar. Mas ad hoc seria necessário entrarmos numa discussão acerca do que
viria a ser sistema - que eu tenho cá comigo muito bem compreendido em conta --
por isso esse meu sucinto comentário. Eu, na verdade, penso que isso seria mais
uma estratégia eleitoreira do que econômica. Isso causa um efeito positivo para
a situação, já que a população precisa se sentir protegida -- foi um efeito
knock down e - pela lei da segurança e sobrevivência - ninguém troca o certo
pelo incerto. E o aspecto positivo é a intervenção governamental, que todo
mundo vem comentando como um tipo de estatização. O problema é que os leitores
e, o que é pior, os economistas não fizeram ou não fazem bem a lição de casa.
Eu, por exemplo, que trabalhei numa seguradora -, mas que nunca tive ou aspirei
a um cargo de gerência - sei muito bem que uma seguradora não pode falir -- ou
seja: está totalmente blindada -- e, nas vezes que há um descuido, essa mesma
seguradora é incorporada por uma outra seguradora mais sólida, formando-se um
tipo de monopólio -- sem falar nas alçadas que cada uma deve ter em seus riscos
-- e é isso grosso modo o que aconteceu com a AIG -- só que foi o governo que
interveio tornando-se o dono, o que não o impede de repassá-la à frente e com
um maior ganho. Mas o que todos perguntam é que se é assim, todos não poderão
fazer o mesmo? Ledo dos mais ledos enganos! Tolo quem acredita ou acreditará
nisso, porque o calo que dói em Tonho não vai doer em todos Antonios, e essa
segunda `AIG` pode muito bem ir pro buraco sim. E isso significa dizer que a
AIG serviu apenas como um alerta para as demais incorporadoras. Não quero me
estender muito sobre isso porque não sou economista. Fiz quatro anos de
Administração de Empresas mas abandonei o curso, porque um professor titubeou
em me explicar alguns conceitos centrais em economia. Mas, curioso que sou, já
li alguma coisa de alguns baluartes da chamada oiconomia. De modo que a idéia
schumpeteriana está longe de acontecer; de maneira que o capitalismo sairá
ainda mais fortalecido. E vou falar mais: o que vai migrar de perda do terceiro
mundo, não está registrado em gibi nenhum. E eu se fosse você colocaria as
minhas barbas de molho, porque o que pode estar em perigo mais uma vez é você e
a sua conta bancária e as suas dívidas nos bancos e não o capitalismo que só
mesmo extinguirá quando o capitalista quiser, ou quando alguém lhe der uma bela
estilingada na base das suas ventas! Mas quem é mesmo que um dia ousará
fazê-lo?
A LITERATURA E A SUA ÍNFIMA RELAÇÃO COM A
HISTORIOGRAFIA
NO FUTURO, DEPOIS DE MORTOS, TODOS SEREMOS
IGUAIS (?)
A palavra literatura sempre me soou como algo sublime.
Mas literatura, a meu ver, é um desses conceitos que quanto mais queremos
definir, menos encontramos as respostas. E não adianta ir lá na pletora de sua
estante, porque não conseguirá definir. E eu não sei a quantas anda a discussão
sobre o que é ou não é literatura. E eu como sou um historiógrafo, vejo também
literatura em tudo. Não é incomum eu estar com um colega e ele me mostrar algo
e eu dizer: mas isso o que você faz é benfazejo para a literatura. Ou seja, o
indivíduo não pode encostar perto de mim que eu logo o alço ao panteão de
Machado. Mas não é menos incomum também eu ter uma contrição espontânea. E aí
acabo fazendo aquilo que nas academias costumavam ou costumam chamar de
taxanomia. E lá vou eu colocar aquele meu colega do café ou do boteco a léguas
e léguas abaixo de meu querido bruxo do cosme velho. E aí um incauto então me
faz a seguinte pergunta: se tudo é literatura para você, por que então
arrependeu-se daquele tal panegírico? E é verdade: quando começamos a separar o
joio do trigo, é que vemos que o joio é joio e o trigo é trigo. Por exemplo: o
que diferencia o meu colega do boteco - que aliás escreve bem pra caramba - do
nosso querido bruxo do cosme velho? E eu respondo: não sei! As diferenças são
mínimas, porque esse meu colega, creiam, não comete erros de sintaxe, não
craseia antes de verbo, conjuga o verbo fazer no futuro corretamente e pergunta
corretamente se cabe no elevador, quando vai adentrar. Mas se quero encontrar
literatura vou aos livros, e não aos botecos; todavia, se quero tomar uma bela
cerveja num final de semana ensolarado, deverei ir à casa desse meu amigo de
boteco, que com seus escritos poderá servir um dia a um futuro historiógrafo
tão ralé como eu -- porque para muitos, ainda, literatura é o que está nos
livros ou perpassa por certos ´cânones literários`. Que os deuses salvem os
póstumos escritos desse meu tal colega beberrão, para o mais ínclito bem da
nossa futura literatura ou para o bem de uns tais tolos historiógrafos como eu
- que só pensam literatura como registro!
Mais
Cartola, menos Nietzsche, menos Prozac.
Cioran
começa assim um belo ensaio: ‘para um autor, é um verdadeiro desastre ser
compreendido.’ Eu, à minha maneira, penso que ser compreendido demais é tão
desastroso quanto. Eis o caso de Nietzsche. Poderíamos dizer que Nietzsche, de
uma certa forma, não seja o propagador do Übermensch; mas sim do
‘ubiquomensch’. O que está em todo lugar e em lugar nenhum. Já li tantas
coisas, que confesso que, quanto mais leio, sobretudo seus hermeneutas, menos
compreendo e não menos me compreendo. Então tomemos uma de seus
interpretadores: ‘... o aristocrata, ao instituir valores, parte de si mesmo,
dirige o olhar primeiramente para si e, a partir dessa direção, afirma ou nega,
venera ou despreza... a alteridade, designando o tipo diferente do nobre, é
julgada pelo contraste consigo...’
Nunc
uma pergunta inocente: ubi esses ARISTÓI fundamentaram o seu ergo sum? Unde
derivam o seu cogito ergo ego?
Ou
seria simplesmente um lago ‘narcinazimetafísico’? Isso se parece um pouco com o
eu fichteano, que todos sabem falho,
ao
menos o autor dessas mal traçadas...: ‘Sum ergo sum’. Mais uma vez os
aristocratas: ‘... a maneira tipicamente plebéia de instituir valores morais se
caracteriza, como se pode compreender, por procedimentos inversos àqueles
empregados pela moral dos senhores...’
Mas
como, se Nietzsche é o destruidor da moral? Uma moral substituindo outra? E
sobre o eterno retorno? aquilo que deve retornar infinitas vezes... Se fosse
Cartola ou Nelson Cavaquinho, até que bem compreenderíamos... Seria um tipo de
imperativo categórico Kantiano? E os hermeneutas reatacam: ‘... para a moral
dos escravos, “Bom” significa o contrário de “Bom” na moral aristocrática...’
Longe
está a fundamentação lógica de tudo isso. E os aristocratas, com a sua força,
tentando impor conceitos inconsistentes, inconsistência pela inconsistência, um
tipo de retórica falaciosa. É possível que venham me chamar de ressentido,
fraco, ave de rapina e/ou cordeiro. Os ARISTÓI talvez tenham razão, porque só
respondo quando me atacam e/ou atacam os indefesos, ou os que não querem se
defender. Mas não me parecem apócrifas essas palavras de Nietzsche: ‘ eu ataco
somente as coisas vitoriosas... eu ataco somente coisas das quais se exclui
qualquer antipatia pessoal...pelo contrário, atacar é, para mim, um sinal de
benevolência, sendo às vezes até de reconhecimento... eu sou o anti-asno por
excelência e, portanto, um monstro de importância histórica: em grego, e não
somente em grego, sou o Anticristão...’ Ecce Homo (ato falho?)... Não devemos
esquecer que ANTI na etimologia grega ‘pode’ também significar: ‘no
lugar de...” Mas tenho certeza que Nietzsche não se reviraria no túmulo, só
pelo fato de eu ter supostamente lhe compreendido.
São
Paulo, 21/12/2004
WILSON
LUQUES COSTA
ESTUDOS PARTICULARES SOBRE A VONTADE DA CAUSA EFICIENTE
Não
quero tomar aqui o sentido estrito de pragmatismo que via de regra é confundido
com intencionalidades particulares de interesses, quando não de interesses de
grupos também. Sendo verdade, portanto, aquilo que é útil, mas não no sentido
geral – mas útil aos esotéricos pragmatistas com seus téloi políticos. Mas
queria aqui raciocinar, e não saberia usar uma palavra para substituir a
própria palavra pragmatismo, senão pragmatismo mesmo. Então vejamos: será que
todo nosso escopo filosófico - e aqui estou falando tão somente da teoria do
conhecimento - não teria de per si a vontade de conhecer com uma vontade
prática? Uma colher serve para quê? Muitos dirão, talvez, que serve para tomar
algum líquido, algum remédio, raspar o tacho de um arroz etc...Ou seja: teria
numa relação de respostas numa certa hierarquia culminando até na sua total
inutilidade. Mas por que respondemos que a colher serve para essas coisas?
Resposta: porque provavelmente tivemos uma relação prática ou de utilidade com
ela, como seres cognoscentes do objeto colher. Todavia, se também perguntarmos
ao fazedor da colher sobre os téloi da colher, obteremos provavelmente quase
que a mesma hierarquia de respostas – obviamente não como arroladas aqui – mas
quase numa perfeita conjunção e intersecção entre sujeito, objeto e causa
eficiente. Posto que a verdade, nesse sentido, está estabelecida pela sua
primeiridade ou ousía primeira. De modo que ter relação de conhecimento com
objetos em que a sua causa eficiente está aí para ratificar não seria de todo
um problema quanto à obtenção de sua verdade. É mais óbvio ainda que poderíamos
nos dispor a elucubrar sobre a colher naquilo que ela tem de especificidade e
de sutilezas, sobre a sua forma etc. Mas estaríamos, não obstante ou apesar
disso, negando a sua intenção de ser colher. Posto que se trata de uma causa
final ou vontade da causa eficiente. Já problemas conceituais e metafísicos
como Deus, alma, etc tornar-se-iam um pouco mais difíceis de se resolver.
Portanto, dentre desse escopo e dessa lógica, tudo que há, há pela razão da
causa suficiente. Mas qual seria a causa eficiente então de Deus? Nesse sentido
teríamos, então, que dizer que o problema não só passa pelo sujeito cognoscente
nem somente pelo objeto em si, mas pela vontade da causa eficiente de Deus, que
nesse caso poderia ser Deus-mesmo e a sua vontade de ser causa, forma, matéria
e fim de si mesmo. Posto que quando perguntamos por Deus, como seres
cognoscentes, sabemos - mesmo que intuitivamente e seriam nesse sentido vários
saberes distintos – por qual Deus perguntamos, senão não perguntaríamos sobre
Deus. Ainda, nesse sentido, queremos explanar que o problema deixa de ser um
problema dicotômico entre sujeito e objeto, podendo sem dúvida também estar
presente em ambos, mas o objeto só terá a verdade em si, e o mesmo ocorrendo
com o sujeito, quando tivermos o devido conhecimento da vontade de sua causa
eficiente. Ou seja, para resumir, a verdade está na vontade da causa eficiente,
podendo estar no objeto e no sujeito também. Já no caso do primeiro motor de
Aristóteles, eu diria que a vontade se encerra em si mesma. Mas a pergunta
ainda é: se todos tivéssemos um dia o pleno e verdadeiro conhecimento de Deus,
será que nesse mesmo dia não O utilizaríamos para as nossas não menos
particulares verdades? A verdade que queremos conhecer para melhor usá-la e
dela nos atribuirmos? Se, ainda, porém, não temos a verdade primordial, assim
vivendo vamos com as nossas particularidades de verdades. Sendo o nosso
propósito uma segunda causa eficiente de uma primeira vontade ainda
desconhecida. Mas não é por isso que eu chamaria isso de pragmatismo, mas de
solução particular e momentânea de um problema, não menos ainda que particular.
E sabendo-nos sabedores da verdade-primeira da causa eficiente, quem nos
garantiria, também, que não a usaríamos em nossas particulares e secundárias
intenções, só para o mero pretexto de nos ajudar a nos justificar em nossos
particulares intentos?
27/05/2008
Vício é vício, mas o problema é você inisistir na coisa: querer fumar e não ter mais o prazer com aquela tragada após o café; ou tomar aquela ceva com os amigos aos sábados naquele botche. Mas chega uma hora que não adianta, você larga do vício, mas o vício não larga de você. É o caso emblemático, por exemplo, de mim com os livros, sobretudo romances. Tenho A Montanha Mágica em casa -- ora díreis e digo aos incautos: tenho a Montanha de Mann -- mas não me aventuro -- tenho Crime e Castigo de Dostoiévski -- e não passo do segundo capítulo - já sei até de cor a história do Raskho -- toda aquela angústia -- e eu se fosse o Dosto, parava por ali mesmo e livro por acabado. C`est fini. Também me meti agora a tentar ler outro do Mann, Tonio alguma coisa -- mas ontem no banheiro dei umas boas puladas de páginas, fazendo-me recordar a minha tardia vingança a todo pulmão contra o também Primo Basílio que me reprovou mais que o seu adultério na França. Ainda bem que Roberto Bolaño estava muito caro e contetei-me com a sua parca biografia na internet; já Fausto achei uma estratégia que deu certo, li em forma de rap -- mas passei um carão danado porque minha mãe pensou que eu estava lá na biblioteca enlouquecendo -- eu cantando aqueles decassílabos em rap. Sem falar do Proust que levei para a minha cama pela ducentésima trigésima vez e que não passo daquele chá de madeleine. E tem Cony, para não dizermos só dos de fora, e tem teatro de Sabbath, Eurídice, Genet para não dizer que não falei dos malditos e até Nerval e Joyce e Becket. Saldo final da noite: um monte de ácaros na cama e um poema bem fraquinho de um poeta desconhecido. Quem mandou eu acreditar que eu gosto de literatura... Agora que menti, terei que sustentar para sempre(ad aeternum) esse meu sofisma irreparável.
Vício é vício, mas o problema é você inisistir na coisa: querer fumar e não ter mais o prazer com aquela tragada após o café; ou tomar aquela ceva com os amigos aos sábados naquele botche. Mas chega uma hora que não adianta, você larga do vício, mas o vício não larga de você. É o caso emblemático, por exemplo, de mim com os livros, sobretudo romances. Tenho A Montanha Mágica em casa -- ora díreis e digo aos incautos: tenho a Montanha de Mann -- mas não me aventuro -- tenho Crime e Castigo de Dostoiévski -- e não passo do segundo capítulo - já sei até de cor a história do Raskho -- toda aquela angústia -- e eu se fosse o Dosto, parava por ali mesmo e livro por acabado. C`est fini. Também me meti agora a tentar ler outro do Mann, Tonio alguma coisa -- mas ontem no banheiro dei umas boas puladas de páginas, fazendo-me recordar a minha tardia vingança a todo pulmão contra o também Primo Basílio que me reprovou mais que o seu adultério na França. Ainda bem que Roberto Bolaño estava muito caro e contetei-me com a sua parca biografia na internet; já Fausto achei uma estratégia que deu certo, li em forma de rap -- mas passei um carão danado porque minha mãe pensou que eu estava lá na biblioteca enlouquecendo -- eu cantando aqueles decassílabos em rap. Sem falar do Proust que levei para a minha cama pela ducentésima trigésima vez e que não passo daquele chá de madeleine. E tem Cony, para não dizermos só dos de fora, e tem teatro de Sabbath, Eurídice, Genet para não dizer que não falei dos malditos e até Nerval e Joyce e Becket. Saldo final da noite: um monte de ácaros na cama e um poema bem fraquinho de um poeta desconhecido. Quem mandou eu acreditar que eu gosto de literatura... Agora que menti, terei que sustentar para sempre(ad aeternum) esse meu sofisma irreparável.
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