Bebedor de conhaque

‘tem um aí’...? fez o gesto com o fura-bolo e o médio,
mas logo entendi que era um arizona.
‘obrigado, cição...!’
– assim ele me chamava,
maneira intimista e majestosa de chamar o sobrinho...
subiu a rua e foi lá no gérsão...
ficava quieto...
a 51 era a sua euforia e a sua alforria...
de todos debicava um pouco...
mas não era insolente...
tinha a segurança de todos...
às vezes era cobrador da clientela...
chegou a servir doses massivas de conhaque
e old eight envelhecidos em tonéis não tão...
dizem que chegou a servir cynar ou coisa parecida
a uma cantora famosa no palace...
mas foi despedido no mesmo dia,
porque quase que consumiu todo o estoque de cerveja...
detestava fofoca ou falar da vida alheia...
às vezes bebia em excesso também...
chegou a ser chacota dos amigos...
foi massagista improvisado do time de futebol de salão
do pardal, que não ganhava de ninguém
e que tinha um zagueiro perpétuo,
logicamente, o dono do time, senhor pardal,
excelente torneiro mecânico da redondeza,
que pensava ser luizinho...
antes de esparzir éter nas canelas fissuradas dos ‘atletas’,
envolvia-o num algodão improvisado
e metia-lhe nas duas narinas sacrílegas...
foi gerente de bar, sem registro em carteira,
boy e estudou em colégio de moços bem comportados,
mas logo foi expulso...
foi também assistente de rufião
e amado por algumas mulheres
não tão solteiras assim, assim, por assim dizer...
bebeu quase a metade da brahma
e quase a outra metade da antarctica,
sem falar no estoque de fernet de 1962...
numa noite, só, engoliu três litros e meio de conhaque...
chamavam-lhe de vagabundo, engrupidor,
homem improdutivo, um nada na vida...

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