A VONTADE DA CAUSA EFICIENTE
A minha ideia acerca de a verdade estar
concentrada na volição da causa eficiente, pode muito bem também aplicar-se à
noção de beleza. Nesse sentido, outorgo ao artífice, fazedor, demiurgo etc o
poder da verdade, beleza etc, instaurado no objeto (poema e/ou obra de arte
etc). Ou seja: a verdade ou beleza ou qualquer outra característica instaurada
no objeto em sua primeiridade é a vontade da causa eficiente e não da antítese
do sujeito em relação com o objeto (poema e/ou obra de arte). Por isso, a
verdade do objeto no objeto e a beleza do poema no poema e não na interpretação
idealista do sujeito cognoscente. O que o objeto (poema e/ou obra de arte) pode
suscitar é uma outra forma de beleza ou verdade, mas não a primeiridade da
vontade da causa eficiente. Por isso, o poema belo em si e a verdade, verdade
em si, porque aposta pela vontade da causa eficiente. Mas isso não significa
dizer que tal beleza e tal verdade devam estruturar nossas vivências. O que
pretendo dizer é que há uma verdade em si, bem como uma beleza em si
resultantes da causa eficiente. Já as suas derivaçaões denomino de interação
dialética. Por isso o poeta ser possuidor da chave da beleza do poema e o
filósofo do próprio conceito. Por isso a necessidade do jogo poético e
filosófico. Porque sem esse jogo o mundo, na certa, estancaria. O poeta e o
filósofo seriam, portanto, os criadores de conceitos e reconceituações dos
própiros conceitos, bem como da própria poesia. E a função do leitor seria
justamente essa: encontrar essa chave micha ou trocá-la por uma outra melhor.
A BELEZA ESTÁ NA CRIAÇÃO DA CAUSA
EFICIENTE.
(TODO POEMA É BELO EM SI)
Na poesia - antes de tudo - é
preciso saber jogar o jogo antes de julgar
Já é até histórico o embate sobre o que é ou
não é poesia. Agora mesmo, depois de ler um capítulo sobre a biografia de Lacan, eu li parte do capítulo de Massaud Moisés sobre o que é poesia. É um livro que
deve ser lido por todos que se interessam por poética e literatura, há,
evidentemente, tantos outros. E esse assunto parece que não terá fim mesmo. E a
cada criação ou movimento, o conceito poesia ao invés de fechar-se, amplia-se.
E os poetas, parece-me, estão aí para isso mesmo: criar e recriar. O problema
maior, eu penso, encerra-se naquele aspecto romântico que temos de poesia. Ou
seja: encararmos - como o ´senso comum´ encara a poesia; como uma coisa
lírica, emocional. Isso seria uma influência - eu não sei se nefasta ou
benfazeja - menos concretista do que romântica. Mas que de uma maneira ou outra
nos atrela a uma cegueira de uma forma inexorável a um posicionamento.
Sempre queremos ver ou obter na poesia uma sensação ´pathológica´ - a
afecção lírica ou emocional.E assim esquecemo-nos que poesia é também
linguagem, codificação, recodificação e aquilo que denomino de projeto
poético, como aventei nos casos de Francisco Alvim
e Bonvicino e tantos outros. E se não entendermos assim (não
compreendermos a intenção do poeta) tudo será em vão. Ou seja: é necessário
compreender a distinção que há também entre poesia e belo e vice-versa. Alguma
poesia pode ser até bela, mas não necessariamente. A poesia, portanto, poderia
ser também a criação de uma linguagem a contrapelo da ´prorsa´. Na
poesia, nesse sentido, instaura-se a volição do poeta, quando dá dinâmica à sua
própria sintaxe, ritmo etc. Já na prosa haveria um ritmos e/ou
um regramento pré- estabelecido. Na poesia, o ritmos e o regramento são estabelecidos pelo poeta. Seria
como um jogo no qual o poeta como causa eficiente apõe as suas intenções
(tese). Melhor, a poesia como um gioco dialético. E a sua síntese seria,
por fim, o espanto estético ou não, que jamais se obteria se não fosse preciso
sempre jogar. A poesia onomatopaica contemporânea
Acerca da poesia onomatopaica contemporânea,
eu havia desistido de escrever, porém julguei que poderia acrescer mais algumas
características:
# é uma poesia também diplomática, no sentido
de arregimentar um sem número de mestres e doutores para convalidar o que a sua
própria poesia não convalida de per si;
# sendo que é arregimentada, não deixa de ser
arregimentadora também;
# possui um cabedal de tentáculos infiltrados
na mídia e universidades;
# julga fazer algo de revolucionário, quando
apenas mimetiza pelo arremedo coisas que já foram feitas, mas não percebidas
pela mídia;
# os seus poetas são um tipo de dândis
semiburgueses, embora não tenham em sua cepa certas aristocracias genéticas;
# isolam, quando podem isolar;
# fingim desconhecer quando é oportuno
desconhecer;
# aliam-se, sempre e quando, a qualquer
movimento -- quando necessário for;
# para esses poetas, vale mais a fama do que
as suas próprias poesias;
Quem se ajustar ao perfil descrito, que se
considere o mais novo poeta onomatopaico-diplomático.
Humanize, se tempo houver, os rios, floras,
montes se ainda rios, floras e montes um dia houver.
Obs: Deixei de falar o mais fundamental de
tudo: que esse tipo de metaforização seria um tipo de sofisma poético, porque
passa num primeiro momento uma beleza aparente. Entretanto, é de uma facilidade
e superficialidade extremadas. Brinquem, os senhores, com a humanização da
physis e verão no que dá. Tentem, senhoras e senhores... E verão que poderão surgir
certas kalias como aquelas dos denominados poetas onomatopaicos superficiais.
Por isso sempre o lance do jogo poético, cujo
mandante é sempre o poeta...
09/07/2009
DROPS NO CAFÉ
A poesia da linguagem
Por mais que intentemos falar sobre a poesia
contemporânea, torna-se difícil elaborar uma crítica isenta de preconceitos.
Podemos errar ao tentar cotejar esse com
outro poeta.
Mas o que se pode notar nesses tempos coevos
é um tipo de poesia órfã da semiótica.
Ou seja: nem todos os poetas, evidentemente,
mas muitos tentam trabalhar a desestruturação do verso e reverberar o
significado esconso divorciado numa primeira leitura do seu significante.
E isso implica dizer que existe um tipo de
esconde-esconde nessa poesia.
E é interessante e de uma certa utilidade
também notar esse processo pelos seus lados semiótico e filosófico.
Entretanto quem perde um pouco, a meu ver, é
a poesia.
A poesia tornou-se, hoje em dia, um tipo de
linguagem.
E cabe aquela expressão: ´decifra-me ou te
devoro.`
Nesse aspecto, acho salutar a sua construção.
Todavia a parte emocional e significativa
perde no seu todo.
Um exemplo claro, a meu ver, é o tipo de
poesia de Régis Bonvicino -- que só conheço pelos livros e de ouvir falar.
Eu tenho o seu livro CÉU- ECLIPSE e não
gosto -- porém vejo um projeto de poesia.
É uma poesia de flagrantes, mas flagrantes
que se homiziam numa linguagem cifrada e hermética -- e é nisso que , a meu
ver, o poeta põe todas as suas fichas.
Há um outro poeta também, Francisco Alvim, que parece ter um projeto poético
nessa linha que procurei descrever acima.
Francisco Alvim no livro de poemas Elefante, ó que grande contradição, tem poemas que
são verdadeiras interjeições ou frases desatreladas de conversas cotidianas.
Se fôssemos ler esses poemas sem uma leitura
de projeto, acharíamos tudo isso uma pequena fancaria.
Mas o que enobrece o livro e a sua proposta é
a contradição e a coerência havidas.
Por isso hesitarmos em dizer que não gostamos
desse tipo de poesia.
Elas, ambas as poesias, de Bonvicino e Alvim,
poderiam nos impactar mais pela proposta do que pela poesia em si.
Seria, como diria Kuhn,
uma mudança de paradigma?
Mas será que nós, humildes leitores,
estaríamos, na verdade, preparados para essas mudanças (de) propostas?
Para isso seria mais justo, julgo, as suas
poesias ou o futuro um dia nos dizer.
Wilson Luques Costa é jornalista
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