O MENSAGEIRO

Foi o seu primeiro dia de emprego. Sentia-se um lorde. Na entrevista de araque, disse ao patrão que conhecia palmo a palmo a cidade. Foi contratado de imediato como mensageiro. Não foi muito de rasgar cartas nem muito se envolveu com jogos eletrônicos. Quando muito, caminhava seis ou sete quilômetros para conseguir um “carlton light mentolado” tipo “king size”. Fumava em média de dez a vinte cigarros por dia . Nas sextas-feiras, exagerava um pouco. Ele tinha estilo: não gostava de fósforos; gostava de isqueiros mais estilizados ; gostava também de um sobretudo espanhol de seu avô. Às vezes, parava num café e lia trechos de Sartre ou Camus. Nas ruas, andava com um livro marroquim e saía palreando uma língua adâmica, mistura de tupi com não sei o quê. Os tolos lhe chamavam de louco, mas gostava mesmo que lhe chamassem de poeta, o eterno mensageiro.


Comentários

Postagens mais visitadas