23/07/2009

A CIDADE DOENTE

Folheia livros, enquanto espera na sala.
Lê algo sobre a Escola de Frankfurt.
Benjamin parece-lhe contemporâneo.
A mulher de toca de lã espera pela enésima aplicação química.
Seus cabelos ralos denotam um certo déjà vu.
Há um ar rarefeito de esperança.
O médico, um jovem médico, como aprendeu a lidar com todas essas coisas de morte?
Ele lhe olha e pisca o sobrolho.
Comunicam-se por pantomimas.
Procura entender o que quer lhe dizer aquele esgar esquerdo silencioso.
As falas são evasivas.
Paira o silêncio sobre as suas cabeças.
Olham-se.
Folheia mais um livro.
A sua visão que cede.
Mamãe lhe dá mais um biscoito.
Não o de Madeleine.
Mas tenta afixar em sua memória aquele momento.
Papai olha-o calado.
Comenta sobre o jogo no Beira-Rio.
Mas nada.
Os corredores já quase vazios.
De repente, tudo escurece.
É inverno em sampa.
Uma fila de faróis serpenteia pela cidade.
Motoristas ouvem mp3 mp4 mp8.
Dirijem-se para casa.
Pulam como dementes em suas senzalas macanizadas.
A veia da cidade pulsa.
E como não haveria de pulsar?

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