Eu
acho que a grande tendência do homem, e que seria por definitivo o seu saber, é
calar-se. Mas isso seria muito diferente do homem tímido, que não fala ou só
tartamudeia por uma característica sua psicológica. Digo calar-se, na acepção
beckttiana quando afirma: ´eu não tenho nada a dizer, mas só eu sei como não
dizê-lo.`Por isso, desculpem-me se a frase de Beckett não é bem assim. Eu, por
exemplo, ando ainda muito longe de tudo isso: de tornar-me o homo silentium.
Isso eu julgo que vem com a idade e com a experiência -- mas já faz algum tempo
que eu venho sentindo o avanço do tempo: uma ruga no sobrolho ali que me
parecia uma coisa passageira que vive todo dia me piscando, o cabelo que se
torna rarefeito a cada dia, a mão que enruga, o desinteresse por atividades que
até ontem pareciam imprescindíveis. Ficar em casa com uma maior assiduidade. A
semana que mal começa, mal termina e vice-versa. A primavera que já passou, o
inverno que começa e acaba. É verdade, ainda nos sentimos moleques,
provocativos. Esquecemos que nosso tempo já passou. Queremos remodelar a
estrutura do mundo e nem nos apercebemos que ela já foi remodelada faz anos por
uma injunção natural da natureza. O olhar blasé pelos jornais. Leituras
esparsas dos leads. Mas há jornais ainda? Eu acho que a grande tendência do
homem, e que seria, por definitivo, o seu saber, é calar-se. Mas isso seria
muito diferente do homem tímido, que não fala, ou só tartamudeia, por uma
característica psicológica sua. Digo calar-se, na acepção beckttiana, quando
afirma: ´eu não tenho nada a dizer, mas só eu eu sei como não dizê-lo.` Há
certos momentos nas nossas vidas, que começamos a nos tornar repetitivos
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