O MEU CAPÍTULO DE CADA DIA
Eu sou assim: ou escrevo tudo de uma vez; ou leio tudo de uma vez. Por
isso tento pela enésima vez abrir Os irmãos Karamázov, mas sei que não
seguirei em fente. Por isso agora descobri um estratagema: leio capítulos
aleatórios de Dostoiévski, bem como de outros tantos catataus. E se não
for dessa maneira não os lerei de maneira nenhuma. Agora mesmo, por conta
desses meus horários loucos como professor de filosofia, eu estava lendo um dos
capítulos mais conhecidos dos Irmãos. O embate entre Ivan e Aliócha. E o
capítulo não perde o seu poder não estando atrelado a uma diacronia ou
cronologia, como queiram, embora uma diferente da outra. Eu tenho uma biografia
de Dostoiévski contada por uma de suas companheiras -- e se não me falha
a memória, Dosto ditava os seus escritos a ela que era estenógrafa -- por isso
a lombada de seus livros tomar toda uma estante. Dizem que ele ficava andando
na sala e ditando de lá para cá. E olha que o homem foi para a Sibéria e ainda
era epilético. Já se aventou também a possibilidade da epilepsia estar
associada à genialidade, mas parece-me que não existem razões científicas para
isso. E isso não passaria apenas de um indutivismo fraco, no qual teríamos
Napoleão, Dosto e mais alguns, além de Machado --que por sinal ditava também
alguns escritos seus a Carolina-- sua eterna companheira, irmã de um poeta
português. Falei tudo isso, para dizer que não consigo parar um livro no meio,
sempre tendo ao início -- a não ser que esse livro seja de línguas ou ensaios
-- por isso ser essa a minha predileção. Quanto a escrever de uma vez, como
teclo numa lan house agora, o faço de chofre -- e se tenho de revisar, já
desisto -- é óbvio que reviso erros de digitação, mas jamais de pensamento.
Tudo me sai de rememorações que no ato da escrita me vêm ocorrendo. Há dias que
sou surpreendido pelo dono da lan house, dizendo-me que o meu tempo esgotou e
aí babau. Por tudo isso somente, que penso que jamais escreverei uma obra com
mais de 200 páginas, porque seria um parto a cada dia. Mas quem disse mesmo que
esse blog não seria um grande romance? Falta-me apenas uma boa estenógrafa e
uns bons lampejos num rompante daquele senhor ali, mais conhecido entre os não
incautos como Sir. Machado de Assis.
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