08/01/2012 

Meu périplo acadêmico 



Depois de me formar em jornalismo, continuei estudando como autodidata e esqueci dos bancos escolares; e para mim isso era para sempre; passara aquela veleidade de trabalhar num jornal. Gostava de frequentar livrarias e sebos. Fiquei muito triste com o desaparecimento da Brasiliense e de muitas outras livrarias ao longo dos anos como a Teixeira, Ediouro, Belas Artes, 5a Avenida, Duas Cidades e tantas outras para o surgimento das megastores como a Livraria Cultura que eu já frequentava e a Fnac. Os sebos de São Paulo mudam a todo instante. Antes se concentravam mais na região central, eram mais próximos dos Campos Elíseos; alguns migraram para a Liberdade. Foram dias e dias frequentando sebos e livrarias. Fui consulente assíduo do Sesi, Sesc, Centro Cultural São Paulo, Biblioteca Mario de Andrade e tantos outros. Mas eu sempre gostei de comprar os livros ao invés de locá-los. Em 1987 fui cursar Administração na Universidade São Judas, mas desisti no último ano. Só fui retomar os bancos escolares em 1999 para fazer mestrado em Educação, mais por curiosidade e incentivo de meu amigo Camelo Ponte. Gostei, mas não fiquei mais que dois anos. Tive boas aulas nos Salesianos. O que mais curti foi a sua arquitetura e a sua história. Os Salesianos tem aquela pompa arquitetônica, sem falar na sua tradição - sobretudo do colégio. Por lá passarram Grande Otelo, inúmeros políticos, clérigos etc; a lista é grande. As aulas foram muito legais. Mas senti que eu não queria desenvolver nada. Eu queria mais curtir as aulas e menos desenvolver qualquer tese. Em 2001, participei de um grupo de estudo a distancia na USP. Lá concluí com os demais colegar a pós-graduação. Reuníamos na casa do Ponte, quase todo sábado, alguns dias de semana e alguns domingos. Líamos um material bem denso adredemente preparado com relatos, cartas etc atinentes a um tema muito em voga hoje que é a violência contra crianças e adolescentes. Fiz mais por ser a USP. E eu precisava de uma maneira ou outra do selo USP. Fiz mais para não me encherem o meu saco de USP. A todo momento me perguntavam se eu era formado na USP. E isso me descredenciava um pouco. As pessoas precisam do ISO. Mas isso me exortou a estudar na PUC. Lá sim foram aulas muito instigantes. Chego a dizer que foi o melhor curso que fiz na minha vida. A PUC tem grandes professores e são muito instigantes. Sem falar no corpo discente que é muito competente e competitivo também; mas não prossegui por inúmeros motivos; desde financeiro, passando por ordem estritamente subjetiva. De lá fui para o mosteiro de são Bento estudar os primeiros passos do grego. No começo não entendia nada. Mas insisti e me esforcei. Começamos mais ou menos com 20 alunos até chegarmos a quatro, cinco, seis, sete, oito, dois, um, variando. O problema para mim é que o professor viu em mim, talvez, alguém que não queria seguir a carreira acadêmica em grego como muitos que fizeram o curso com ele. Um exemplo é o Júlio que é um jovem de uma inteligência tamanha. Eu, às vezes, tinha uma certa dificuldade em acompanhar certas traduções; uma porque o professor se comunicava mais com os alunos no decorrer da semana; e quando eu chegava no curso tinha ficado para trás sobre algumas passagens que necessitavam das dicas do professor. Vejam a importância de um magister.  Percebi isso; mas mesmo assim continuei. Pretendo voltar um dia. Eu, na verdade, gosto mais de estudar a gramática grega; com os textos não me empolgo muito. Depois fui fazer latim e acumulei com outro curso de alemão. Vejam a bagunça que criei na cabeça; apensando a tudo isso os meus problemas pessoais que não eram menores. Das aulas de latim, lembro-me do professor Basseto. Professor aposentado da USP. Aprendíamos mais filologia e histórias magníficas que contava na sala, a ponto de não termos nada, ás vezes, de gramática; e isso fazia eu recorrer ao Napoleão de Almeida que até hoje recorro. É preciso reconhecer que essas línguas instrumentais são um outro tipo de línguas; dificilmente temos uma proficiência como no inglês, coisa que não tenho também; são línguas mais para pensar e entender. Há uma lentidão agradável a contrapelo dessa modernidade fast food. Não prossegui no alemão no mosteiro porque não houve alunos inscritos; quanto ao grego e ao latim, fui informado que foram incorporados ao curso de graduação de filosofia, que de uma certa maneira dá um certo status ao curso. Digam-me qual universidade de filosofia tem grego e latim em sua grade? E a Faculdade São Bento tem. Há uns colegas da PUC que lecionam lá. Digo colegas; não amigos nem inimigos; colegas da PUC que são mestres e doutores e pós-doutores hoje. Quase toda, para não dizer todas, universidade é um poço de vaidade; e aí ou você resiste ou ataca com vaidade - coisa que Nietzsche denominava de fraqueza - mas essa vaidade antes de ser perniciosa; e é; é ao mesmo tempo muito incentivadora, porque cria a competividade intelectual que se de um lado não é bom, por outro nos faz estudar mais e mais. O meu problema talvez seja a minha formação anárquica;  e isso de uma certa forma me faz um pouco reativo à submissão que é um ingrediente universal em toda universidade. Mas isso não significa que eu parei de estudar. Fiz um curso, como já relatei aqui de equivalência em filosofia pelo Claretiano; ou seja, abandonei o mosteiro de são bento e a Faculdade de São Bento para cursar o Claretiano a distância. Hoje, retomei o ensino a distância na UNESP pelo incentivo do Governo do Estado de São Paulo. Pretendo retomar ainda o stricto sensu em alguma universidade federal ou estadual. Mas não sei, com efeito, se vou conseguir elaborar uma tese. Gosto muito de pensar e anotar. Eu tenho uma relação estranha com a universidade de amor, ódio e desdém. Mas espero encontrar os meus pares. Estou sempre pensando e anotando e estudando filosofia, poesia, economia e inúmeros temas. Eu sei que tudo isso de uma maneira ou outra me leva numa espiral que eu efetivamente não sei aonde vai dar. E é isso que dá o sabor da minha caminhada. Sou como Ulisses que procura entre os escombros reencontrar o seu caminho, se é que tivemos um único um dia.               

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