para
luis marra
O SARAU
Era um sarau.
´Ele era um maníaco: estuprou a velha oitentona de
protuberantes varizes. A velha era gorda, feia, espalhafatosa, cheirava a
urina, traía o marido. O marido, ele, amasiado há anos com a melhor amiga de
sua esposa -- a amante, uma pérfida senhora inescrupulosa, saía às terças com o
feirante da banca de laranja, além dela, havia uma outra, prostituta do número
356 que há tempos traía o outro, seu dileto marido, também, mais um corno juramentado
da rua...´
E o grande escritor lia para as paredes vazias, as
pessoas, à francesa, retirando-se, e o salão ficando vazio e o soco na cara, no
estômago, daquela gentalha -- a pudicícia curvando-se ao valor da verdade; e o
escritor continuava, soco na cara daqueles imbecis, lendo para as paredes e as
paredes tinham ouvido e a vizinhança tinha ouvido e no outro dia toda a cidade
já sabia... o conto não era conto, era realidade...era um contista fajuta de
primeira categoria aquele... nem inventar ele sabia...era sim o dedo-duro das
mais altas das falsas consciências...
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