20/09/2005 

DO LIVRO CONTOS DE ARRABALDE 

Há dias não tomavam banho nem faziam a barba...
As suíças encaracolavam-se e ensebavam-se...
A última refeição tinha sido há dois meses...
As moedas...
Eram as guimbas malfumadas por mais de vinte...
As maçãs do rosto sulcadas pela dor e desespero...
Alguns com o rosto glabro e com as órbitas espantadas...
Cavoucavam bastante...
Varavam a madrugada cavoucando aquela terra árida e farpada...
A sede era incontrolável...
Não havia espelhos...
Os espelhos eram os próprios companheiros que cavoucavam também...
Pensavam...
Ir-se-ia construir uma monumental...
Uma grande obra...
Por isso cavoucavam desesperadamente...
A fila era enorme para o banho...
Havia mais de quatro quilômetros de fila...
Todos na fila esperando numa azáfama com os sabonetes nas mãos...
O provérbio diz que o tempo cura todos os males...
Mas está difícil para Isac esquecer daquele banho...

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