O ESPANTO FILOSÓFICO

Que a filosofia é espanto parece-nos que há uma concordância a princípio. Todavia é elementar que a filosofia não caia no cipoal das platitudes filosóficas.  Fica meio evidenciado que de um lado há o senso comum do não espanto; os não filósofos com os seus meros problemas, as suas meras angústias não percebidas, a sua submissão não assumida, a sua estética não construída, a sua moral mal resolvida e a sua não ética por si escolhida.  E nesse maniqueísmo dicotômico, apresentam-se os filósofos ou amantes da filosofia que se espantam e que, por outro lado, tem ou supõem ter a ação panaceica do mundo pelo espanto. E pensando e julgando dessa maneira, julga-se que de um lado reside a não verdade, pelo suposto que do outro ela já existe -- e sendo assim, dando-se por acabado o espanto e por conseguinte o filosofar. Sendo, desse modo, portanto, a atividade filosófica da linha escatológica do mundo. E é justamente aí que se diferencia o texto de Trajano, que, no texto Filosofia Geral e Problemas Metafísicos, nos ensina e nos adverte:` Portanto, uma primeira condição para trilhar o caminho da episteme, portanto da Filosofia, é procurar desvencilhar-se da inércia do hábito. Somente vencendo a inércia do hábito podemos fazer uma pergunta sobre determinado objeto como se estivéssemos vendo-o pela primeira vez. (Arruda, Página 5). É evidente que esse excerto se lido na sua não contextualização poderá nos indicar aquilo que nós tentamos, no bom sentido, criticar: que até os problemas do senso comum filosóficos precisam ser problematizados e que valem a pena problematizá-los. O problema é: como fazê-lo? E a primeira coisa que pensamos é fazê-lo não olhando para o exterior e sim para os nossos órganons.  Devemos primeiro nos perguntar: 1 ) Onde se embasam as nossas certezas? 2) Através de qual linguagem as recebemos? 3) Por que as aceitamos? 4) Quais foram os métodos persuasivos, pelos quais nos persuadimos? 5) Por que nos deixamos levar pela persuasão da linguagem? 6) Por que a linguagem é um acordo explícito e não uma derivação racional? 7) Por que questionamos a tradição com o instrumento recebido pela tradição e não a própria estrutura gramatical e literária? 8) É possível criar uma linguagem racional que a critique, fora dela e não dentro dela? 9) Será que é possível filosofar dentro dos limites da linguagem particular humana?  Esses são, a nosso ver, alguns problemas que podemos criar, não obstante dependentes da linguagem herdada. Prosseguindo: 11) Será  que é possível abdicar da linguagem cotidiana e filosófica? 12) Romper os seus limites impostos? 13) Será que ao invés de filosofar não fazemos um discurso pleonástico, onde as sinonímias não são observadas pelos nossos hábitos (mesmo que na condição de aprendizes de filosofia)? 14) É possível a atividade filosófica? Se a filosofia é uma atividade, ela é, parece-nos, um processo, não um fim; ela é  um jogo, uma arte. E se é jogo é mister que seja bem jogado dentro das regras acordadas ou racionalizadas. Se é arte, é técnica; e técnica não é substituir uma pedra pela outra. Como nos assevera Arruda, (Página 5) ´... nós estamos habituados a ver a chama sem fazer muitas perguntas, porque a chama é algo que vemos, e com que convivemos, desde criança.´ E nesse sentido, acabamos percebendo que a palavra espanto caiu simplesmente no lugar comum, na  ação maquinal dos que perpassam pelo discurso filosófico. O problema, e aí, a nosso ver, o grande problema, é que problematizamos o mundo, porque o mundo nos problematiza, antes de problematizar a linguagem. De maneira que aquilo que são problemas, e não deixam de ser, são problemas mais de ordem social, política, estética, moral, são mais problemas axiológicos do que os problemas da linguagem. É comum nos depararmos e nos espantarmos com a pobreza, com a corrupção, com a ideia já quase ultrapassada que vai vem e volta da estética, mas são questões não da Filosofia e sim de umas chamadas disciplinas filosóficas. Há, com efeito, que se ter um senso moral, uma autonomia na escolha, é certo ou quase certo. Mas a grande problematização talvez seja aquela que eles, os outros e todos nós ainda não percebemos.  É mister, urgente, descermos do Olimpo para do vale nos espantarmos.   

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