DO LIVRO CONTOS DE ARRABALDE

BATENDO LATA / 2001

Há horas aguardava por aquele táxi.
O chofer de quepe vermelho, gravata Hermés e paletó puído seguia circunspecto...
No trajeto nada conversaram...
As portas do comércio estavam todas fechadas...
O trânsito estava livre...
Mas a velocidade mantinha-se a mesma: vinte quilômetros por hora...
Havia o portão frontal...
Mas Queiroz preferiu entrar pelos fundos...
Já anoitecia...
Ouvia-se ao longe o cantar dos pássaros...
Lá chegando, o chofer desceu do táxi, ajeitou o quepe, arregaçou as mangas e chorou...
Onofre fora um grande amigo...
Lembrou-se das noites maldormidas...
De Janete...
Aquela prostituta...
Das intermináveis boêmias...
Uma chuva fina respingava em seu paletó...
A meteorologia anunciava pelo rádio do táxi tempo bom para as próximas horas...
Queiroz pensou: 'TEMPOS BONS...!'
Pigarreou e fechou o ataúde...
Minutos depois as gramíneas sepulcrais vicejavam sobre os ombros de Onofre...

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