13/11/2010 

OS GRANIZOS DOS DEUSES 
Oh, era de ferro em que vivemos! Oh, universo do soçobro! A indigência é o nosso apanágio! Somos uma Roma decadente! Somos governados pela gula e pela lubricidade! Comecemos a tocar a nossa lira antes deste monstruoso incêndio! Nero caminha pelas nossas ruas! Oh, quantos césares e brutos vejo daqui desta sarjeta! Que me olhem com os seus olhares vesgos de denúncia! Que me levem ao patíbulo então! Lá também terei a calma de que necessito! Do patíbulo enxergamos com maior acuidade as nossas malogradas aspirações! Aspiramos ao nada sempre! O homem de hoje é o mesmo homem de ontem! Mata-se sempre o mesmo homem! Fere-se sempre o mesmo homem! Trai-se sempre o mesmo homem! Nós somos os nossos próprios algozes! Destruímos o outro anelando a nossa própria destruição! O outro é o nosso próprio espelho! É um espelho que não se distorce! Mas tememos encontrar os nossos próprios rostos! No outro vemos a nossa cicatriz! Vemos a estigmatização de nossa queda! Caímos mesmo antes de nos levantar! Rastejamos à procura de não se sabe o quê! Queremos o imponderável! O que não se avista! Não queremos porto seguro! Queremos este mar! Este pélago de deuses desconhecidos! Somos os ermitões de um planeta sem timoneiro! Nosso deus é o desespero! Estamos tatuados de medo! Somos uns nautas que temem as vagas do mar! Fomos jogados ao mar sem o nosso consentimento! Temos que anuir  que não desejamos! Temos que enfrentar o inimigo de perto! Tememos o desconhecido! Por isso nos tememos! Desculpe-me, Proserpina! Mas o hades nos espera! 

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