Quem é esse autor que você está lendo, Proserpina? Hoje todos são escritores! Antes o escritor era alguém que possuía supostamente algo a dizer! E por que escrevia? Escrevia porque não havia televisão! Escrevia porque não havia rádio! Escrevia porque havia milhares de analfabetos para poderem não entender os seus livros! Escrevia porque se achava elitizado! Escrevia porque queria mudar o mundo! E agora veja, Proserpina: o mundo continua aí ainda dando as suas voltas! Escrevia também porque se achava solitário! Hoje somos todos solitários! Temos a indústria do papel e da caneta! Temos computadores! Notebooks! Blogues! Sites! Todos temos sites! Mande as suas mensagens para o meu site! Somos todos escritores! Hoje todos escrevem! Hoje todos publicam! A grande transgressão é não escrever! Eu não quero escrever nada! Que façamos a antiescrita! Que eliminemos esses drugstores de papeis e crayon! É uma ilusão pensar que nos livros está a ação panaceica do mundo! É uma tragédia quando se descobre que os livros são os mais nefastos exortadores de nossa decadência! Inventemos uma outra forma de transgressão! Até a escrita foi cooptada pelos bárbaros! A escrita foi barbarizada! Hoje o que eu quero é a antiescrita! Traga-me um papel em branco! Ali é que se encontra o maior saber! Traga-me um papel não conspurcado pelas mãos dos homens! Traga-me esse mais digno registro do saber: o nada! Jogue esse livro no lixo, Proserpina! Que os deuses lancem a tempo a sua arca e salvem imediatamente: Artaud, Balzac, Borges e Cocteau!
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