ARTERIA URBIS

Folheia livros, enquanto espera na sala. 
Lê algo sobre a Escola de Frankfurt. 
Benjamin parece-lhe contemporâneo. 
A mulher de toca de lã espera pela enésima aplicação química. 
Seus cabelos ralos denotam um certo déjà vu. 
Há um ar rarefeito de esperança. 
O médico, um jovem médico, como aprendeu a lidar com todas essas coisas de morte? 
Ele lhe olha e pisca o sobrolho. 
Comunicam-se por pantomimas. 
Procura entender o que quer lhe dizer aquele esgar esquerdo silencioso. 
As falas são evasivas. 
Paira o silêncio sobre as suas cabeças. 
Olham-se. 
Folheia mais um livro. 
A sua visão que cede. 
Mamãe lhe dá mais um biscoito. 
Não o de Madeleine. 
Mas tenta afixar em sua memória aquele momento. 
Papai olha-o calado. 
Comenta sobre o jogo no Beira-Rio. 
Mas nada. 
Os corredores já quase vazios. 
De repente, tudo escurece. 
É inverno em sampa. 
Uma fila de faróis serpenteia pela cidade. 
Motoristas ouvem mp3 mp4 mp8. 
Dirijem-se para casa. 
Pulam como dementes em suas senzalas mecanizadas.
A veia da cidade pulsa. 
E como não haveria de pulsar?
















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