21/12/2011 

O editorial da Folha de hoje, mais uma vez, faz crítica veemente à medida do governo em nivelar as disciplinas de filosofia e sociologia com as demais disciplinas, ficando, contudo ainda, abaixo das disciplinas de matemática e português.
Para variar, a crítica incorre em filosofia e sociologia, disciplinas tidas pelo senso comum desde a Grécia (Φιλοσοφία) como supérfluas.
E digo que são, sobretudo para aqueles que tem uma visão muito superficial da filosofia e da sociologia.
A justificativa é sempre que a filosofia leva de nenhum lugar para lugar nenhum, pelo menos é isso que compreendemos.
E isso é até justificável, na medida em que se faz uma opção por um modus vivendi que não pode ser questionado.
Mas o que mais me causa estranheza não é o fato de se colocar a velha pergunta: Filosofia serve para quê?
E eu efetivamente também confesso que não sei responder.
Mas talvez contraditasse com outra questão: e a vida serve para quê?
Para comprar todo domingo a Folha de São Paulo?
Para ler os anúncios de carros zero quilômetro, sem que peçamos todo esse cabedal de besteira?
Mas há outra coisa que mais me intriga além dessas perguntas já citadas que é perceber que quem tenta discorrer sobre filosofia não tem competência para questioná-la.
Porque a filosofia está tão elevada que só pode ser criticada por filósofos ou amantes da filosofia e não por editorialistas gazeteiros que confundem o conceito experiência, como se se estivesse desejando formalizar um curriculum vitae, coisa que só interessaria aos aduladores do homo faber capitalista.
De fato, a Folha com o seu editorial comprova a tese de que não nascemos para pensar e que sempre estaremos à disposição para aqueles que pensam por nós e não por nós. 
O problema é que quando não pensamos o corpo padece como já dizia a velha máxima.
Pensar cansa a alma, já dizia um filósofo. 
Com efeito, temos, como diriam os gringos, uma grande disposição para o não pensar, e isso deverá se aguçar se tudo depender da vontade da Folha de São Paulo que julga possuir o mais dileto poder de nossa autoridade.
Me poupem, xô!    


Wilson Luques é jornalista, pós-graduado em psicologia e professor de filosofia. É sócio da UBE. Tem passagens por cursos de mestrado em educação e filosofia. Publicou dois livros. Estudou os rudimentos de grego e latim no mosteiro de São Bento. Atualmente faz pós-graduação em docência em filosofia pela UNESP. Tem textos publicados na Revista O Escritor e na Revista de Arte e Literatura Coyote/ Iluminuras.    

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