O CEROL DE SAMEUA 



Lembro-me vagamente de seu nome: Sameua...
A linha era corrente vinte e quatro...
Comprávamos no bazar da Maria Japoneza...
Às vezes, conseguíamos emendar uma linha vinte e quatro com linha dez...
Não havia preconceito...
João ascendia de alemães e italianos...
Eliseu de possíveis judeus...
Carlinhos era um tipo cafuzo...
Sinval um perfeito sarará...
Eu...
Brasileiros com espanhóis...
Minha pipa era pênsil...
Hesitava muitas vezes diante da bola pelé...
Fazia algumas embaixadas, enquanto não soprava o vento do norte...
A rabiola era multicolorida....
Sonhávamos, contemplando o céu salpicado de estrelas de papel...
Lembro-me vagamente de seu nome...
Sameua...
Sua pipa era azul-vermelha com uma faixa branca no lado esquerdo...
Seu cerol era lancinante...
Feito de vidros moídos com cola de madeira...
Quando ele vinha, nossas pipas flutuavam desatinadas...
Atônitos, ouvíamos falar de seu nome...
Sameua...
Ainda me recordo de seu nome...
Seu cerol cortou os nossos corações...
E o céu salpicado de estrelas pra sempre nublou...  

# Texto republicado nesse blog com pequenas alterações.  
ex: havia colocado no livro: "pipa no masculino" - porque na vila ré sempre falamos (nossos pipas)...(meus pipas)...de modo que grafados estão no masc. e fem. agora.

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