A última ceia dos três últimos cavaleiros do apocalipse


No Hospital

Foi assim: a equipe médica já tinha colocado o dreno. 

O tiro tinha acertado o meu abdome.

Eu já respirava pelos aparelhos.

Um monte de cobrinhas já habitava a minha visão.

De repente uma correria.

Carlão já tinha enquadrado os seguranças.

Moisés a enfermeira.

O carrinho pelos corredores parecia que ia capotar.

Mas ninguém ficou pela frente.



















No Restaurante

Comi um Fígado de Ganso Foie Gras (US$115 a grama).

Bebi um Dom Perignon 1988 Vintage Champagne ($700,00).

E ainda dispensei um Classic Grey Sevruga Caviar de $2.520.

E eu lá com aquela fiação da drenagem toda esfiapada.

E o sangue jorrando pelos dutos do meu abdome.

E eu vomitando pelas ventas todo aquele Foie Gras regado por um Dom perignon 1988.

O pessoal queria fugir, mas não dava.

O Carlão estava ensandecido.

O Moisés estropiado.

E eu não aguentava mais aquelas guloseimas e acepipes todos.

E eu vomitava pelas ventas.

Vomitei no prato de um cônsul que degustava um Açafrão vermelho Iraniano ($750).

Espumei num copo de cristal de uma beldade amante de um embaixador que lá estava e arrotei numa baixela de prata com caviar de uma secretária de uma embaixatriz.

O pessoal todo estava com o maior medo, com o maior cagaço.

E eu com aquele dreno todo.

E o Carlão e o Moisés fazendo toda a lavagem.

Então tomei para distrair um Café de Luwak 9 ($229,95) e acendi, logo em seguida, um monte cristo para sossegar enquanto o Carlão e o Moisés faziam todo o serviço.

Moral da história: 12 mortos no total, entre diplomatas, cônsules, embaixadores, escritores, atrizes, doutores, doutorandos e poetas, mais Moisés, Carlão e eu, na mais requintada ceia dos 3 últimos cavaleiros do apocalipse.







Comentários

Postagens mais visitadas